Consumo maior que a produção

Geólogo afirma que a população está consumindo demais

Vivemos em um planeta onde cerca de 71% da superfície é coberta por água em estado líquido. Desse total, apenas 1% é potável, ou seja, apropriado para o consumo humano, o restante está armazenado em mares e oceanos, dotados de água salgada.

O Aquífero Guarani, uma das maiores reservas mundiais de água doce subterrânea do mundo, passa embaixo de Sant’Ana do Livramento, porém, mesmo com essa água em abundância percorrendo o nosso subsolo, atualmente enfrentamos um grande problema de abastecimento, com parte da comunidade sem água em casa ou no comércio.

Alex Fabiano Fontoura está sem água há 4 dias

O calor intenso e as festas de fim de ano fazem com que a população da cidade aumente em grande número. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal, nestes últimos dias de 2013, houve um aumento em cerca de 35% na população. Isso ocorre graças ao grande número de turistas, que, mesmo com o dólar variando na base de R$ 2,00, lotam as ruas de Rivera e os hotéis de Livramento, além dos santanenses frutos do êxodo trabalhista, que vêm visitar seus parentes nas festas.

A reportagem do jornal A Plateia foi até a Secretaria de Planejamento do município para conversar com o secretário Fábio Perez e com o geólogo Eventon Meira. Ambos são claros e enfáticos quanto à atual situação: “O problema é estrutural e a falta no abastecimento é fruto do alto consumo de água”, relataram.

Segundo Fábio Perez, a nossa cidade foi mal planejada logo no início. Hoje, por exemplo, não se tem um mapa hídrico no município, que serve, principalmente, para saber a localização exata dos encanamentos. “Quando vamos localizar um encanamento, precisamos utilizar mais recursos do que se tivéssemos esse mapa à disposição”, afirmou o Secretário.

O geólogo Eventon Meira destaca que no fim do ano, com o aumento da população no município, o consumo de água se eleva a tal ponto que os poços e caixas d’água acabam esvaziando, não havendo tempo para o aquífero se recuperar e dar uma vazão.

Poços artesianos

Enquanto uns estão sem água, outros seguem com sua rotina normal: como não faltou água na residência em que trabalha, no centro, Maria continuou seus afazeres

A legislação não permite que se perfure um poço artesiano. Porém, quando o uso da água gerada for para fins que não contemplem o uso humano, e for instalado em um local onde não haja rede pública de água, o usuário pode solicitar uma autorização para a perfuração.

Segundo Eventon, ainda assim, este é um processo complicado, para o qual deve ser realizado um minucioso estudo da área para a instalação. “Para casos de uso no abastecimento de piscinas, lava a jatos, entre outros, você tem que apresentar a planta hidráulica, assinada por um engenheiro civil, mostrando muito claramente que a água do poço não entra em contato com a água do DAE. Toda essa preocupação é porque a água de um poço particular, inserido em uma rede pública, pode contaminar a água que vai para toda a população”.

 

 

 

Como você pode ajudar a resolver?

Paola Mazzarino, cabelereira há 15 anos, está há dois dias sem água

A água é um bem finito, e o alto consumo dela e o desperdício podem acarretar em diversos problemas futuros, como aponta o secretário. Muitas pessoas acabam, com a chegada do caminhão-pipa, utilizando a água para lavar a calçada, lavar o carro, encher a piscina, enquanto outros estão sem o líquido até para suas necessidades básicas.

Como o problema está sendo resolvido?

No primeiro momento, a Prefeitura Municipal está utilizando os caminhões-pipa para fornecer o abastecimento às regiões em que os poços estão apresentando deficiências.

Esses veículos levam água de locais onde há uma boa quantidade de água, para lugars em que os poços estão vazios ou abaixo dos níveis desejáveis. Segundo relato dos moradores da região do Planalto, a água levada pelo caminhão-pipa dura menos de 12 horas.

O município confirmou, através da Secretaria de Planejamento, que serão perfurados dois novos poços, um deles na região do Planalto. O outro ainda está sendo estudado.

Segundo Fabio Perez, em julho de 2013, em uma reunião, foi acertada a compra de dois reservatórios de água, um com capacidade para 300 mil litros e outro para 50 mil litros de água. Porém, a alta burocracia e o atraso na entrega pela empresa licitada fizeram com que os reservatórios cheguem apenas no dia 20 de janeiro de 2014. O investimento custou cerca de R$ 250 mil para o município.

 Entenda como a falta de água afeta a comunidade e as empresas:

Lorena Goes, moradora do centro da cidade há 41 anos, está há 48 horas sem água

Muitos comerciantes e empresários utilizam a água como forma de sustento, como é o caso de Alex Fabiano Fontoura, proprietário de um lava a jato no Planalto, que está sem água há 4 dias. Ele ficou sem lavar, em média, 30 carros, a R$ 15,00 cada, tendo um prejuízo equivalente a R$ 450,00. “Passei apertado esse fim de ano, estou até comprando fiado”, relatou. Já Paola Mazzarino, cabelereira há 15 anos, está há dois dias sem água no salão de beleza, e perdeu, em média, 7 clientes por dia. “Cheguei a lavar cabelo de cliente com caneca, mas não dá, estou perdendo clientes devido à falta de água”, lamentou.

Lorena Goes, que mora no centro, em frente ao Parque Internacional, onde reside há 41 anos, há 48 horas sem água, relata que jamais tinha passado por essa situação. “Acredito que toda a cidade está sofrendo com a falta de água. É imperdoável uma cidade que tem água subterrânea em abundância passar por isso. Espero que este momento sirva de lição para os administradores do município, para que eles solucionem o problema no presente, visando ao futuro. Uma cidade cuja população se orgulha de sua água, que vem do Aquífero Guarani, ficar sem ela é muito triste. O atual governo deveria repensar a sua administração, a cidade está suja, escura e sem água”, observou.

 

Vazamento de água na Rua Bento Gonçalves com a Rua Pinheiro Machado aumenta o desperdício

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