Um alerta para o endividamento familiar

Não há como negar que há um horizonte de incertezas no cenário econômico do país. E essa percepção não decorre da elevação do nosso patamar de risco, diagnóstico feito por algumas agências internacionais. Ora, essas organizações estão em descrédito desde que não foram capazes de perceber qualquer indício da crise financeira internacional, que eclodiu em 2008.

O ambiente de certo pessimismo que realmente importa é aquele presente no cotidiano da própria economia interna, especialmente junto aos mais diferentes setores produtivos. Nada que aponte para prognósticos catastróficos, mas um sinal de alerta foi acionado especialmente pelo temor da inflação, pelo aumento dos gastos estatais e pelo endividamento das famílias.

Sobre esse último aspecto, especificamente, um dado revelado nos últimos dias agravou a sensação de perigo. O nível de endividamento das famílias alcançou um novo recorde histórico, a considerar a série da pesquisa iniciada em janeiro de 2005 pelo Banco Central. Está na faixa de 45,1% (o índice considera o endividamento total das famílias com bancos correspondente à renda em doze meses). O indicador vem subindo anualmente, sendo que, no começo, estava em 18,39%.

O Banco Central, claro, tentou conter qualquer alarde. Seus dirigentes defenderam que o aumento é sustentável e acompanha o crescimento da relação do crédito disponível do país frente ao PIB (Produto Interno Bruto). De fato, não há como negar o papel ativista do governo no mercado de crédito, inclusive usando os bancos públicos como players. Porém, a existência de certo descontrole não pode deixar de ser considerada.
A facilitação do acesso ao crédito cumpriu um papel importante, defendendo minimamente o Brasil dos efeitos da crise que vinha de fora. Todavia, permitiu o aprofundamento de uma cultura de consumo que já não tinha a prudência como maior característica. O comportamento médio brasileiro, de endividar-se e não fazer poupança, encontrou um mar propício para navegar nas facilidades que se sobrepuseram. E quem mais surfou nessa onda foram justamente os menos prudentes.

Em tese, não há nada de errado em endividar-se. O problema está em exceder-se. Ao contrair um crédito imobiliário, comprar um imóvel num valor superior ao que efetivamente se pode pagar. Ao financiar um veículo, assumir uma parcela pesada demais. Ao deixar-se seduzir pelas ofertas, gastar demais nos excessos e esquecer de preservar o principal. Quem nunca viu histórias desse tipo? E quantos nunca cometeram esses erros?

Se não são alarmantes, esses indicadores não podem ser vistos como dados secundários da realidade. Como disse, eles compõem um ambiente de incerteza que tem crescido nos últimos meses. E invocam a revisão de postura que envolve governos e pessoas – não no sentido de reter o crédito, mas de ter equilíbrio em seu uso.

Trata-se de um esforço, que não pode ser delegado, de dominar a sedução do consumismo exagerado no cotidiano, sob pena de contrair problemas para a vida toda. Então, pequenas mudanças de atitude de um indivíduo perante o universo de compras, muito longe de ser avareza, é sinal de responsabilidade. Com o país, consigo mesmo e com sua família.

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