Desindustrialização que persiste

Uma árvore que cai faz mais barulho do que uma floresta inteira que cresce. Essa máxima popular, tão verdadeira em muitos casos, não se aplica no fenômeno da desindustrialização pelo qual passa o país. Trata-se de um processo gradativo e praticamente silencioso, por isso mesmo é percebido, no curto prazo, apenas pelas entidades que lideram o setor ou por quem está à frente do mercado industrial. Nem por isso deixa de ser grave e preocupante. O alerta precisa aumentar. É preciso criar consciência pública a respeito do problema.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquina e Equipamentos (Abimaq) revelou, recentemente, que os indicadores do setor, de janeiro a setembro, já sinalizam para um ano de 2013 pior que 2012. Os números apurados apontam para um consumo aparente com crescimento de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Na contramão, o faturamento amarga uma queda de 5,3%, e as exportações caíram 11,6%. Já importações cresceram 7,5%.

Os dados reforçam o diagnóstico de que a os produtos importados estão tomando conta de boa parte do mercado. Isso não teria problema se ocorresse com critério, observadas as boas práticas do comércio internacional e preservado o interesse da indústria brasileira. Porém, não é o que ocorre. Basta ver que nível de utilização da capacidade instalada dos nossos parques produtivos, considerando-se um turno, é de 74 % – um dos piores da história.

As demissões, ainda segundo a Abimaq, já começam a ocorrer em setores que fabricam bens sob encomenda, como os de óleo e gás, siderurgia, açúcar, álcool, cimento e mineração. Quem estava bem – caso da cadeia de máquinas e implementos agrícolas e de máquinas para a indústria do plástico – foi surpreendido com a escassez de recursos da linha PSI-Finame neste final de ano. Era especialmente dessa fonte que vinha a ativação do segmento.

Não se trata de fazer um diagnóstico pessimista, pois a indústria brasileira é pujante e criativa. Mas os fatos não podem ser ignorados. Os maiores problemas estão nos entraves da produção e venda dos nossos produtos, bem como na lamentável logística viária. É o Custo Brasil, que diminui consideravelmente nossa competitividade. Estudos mostram que, na comparação entre artigos produzidos aqui e na Alemanha, o nosso sai 43% mais caro.

Some-se a isso uma das maiores taxas de juros do mundo, a carga tributária abusiva, a infraestrutura precária e a concorrência desleal. Deixamos de produzir aqui para comprar de fora. Assim, entregamos o mercado brasileiro de bandeja para nossos concorrentes e geramos empregos no exterior.

O governo acertou em algumas medidas, mas elas são insuficientes. É preciso recuperar a competitividade brasileira, pois os obstáculos existentes para o setor produtivo estão corroendo todo o tecido da indústria nacional, desmantelando aos poucos muitos segmentos. Para isso, desde logo, é preciso atender pleitos como: renovação do PSI-Finame para 2014, continuidade do Reintegra (Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras), conteúdo local obrigatório nas compras públicas ou com financiamentos públicos, mudanças no mecanismo de concessão de ex-tarifários, fim dos regimes especiais, mudanças na política cambial e criação de incentivo para empresas que comprarem mais autopeças, máquinas e equipamentos do Brasil.

Além disso, são necessárias medidas urgentes de defesa comercial para barrar a concorrência predatória de alguns países. E, num horizonte não tão distante, também precisamos encarar o desafio de criar um verdadeiro plano industrial para o país. Enquanto alguns países já têm um projeto para 30 anos, aqui, ao menos nesse aspecto, não temos consenso sequer do que queremos para o próximo biênio. Estamos à deriva, com altos custos para o setor produtivo.

Algumas árvores que sustentam a indústria brasileira estão caindo aos poucos, sem que sua queda esteja sendo ouvida. Mas precisamos ouvir esse que é um dos sustentáculos da nação. Como a floresta que cresce, a indústria faz um trabalho gigante no desenvolvimento do país, na geração de emprego e no aumento da renda. Não podemos cometer o equívoco de subestimar esse grave processo que está em curso.

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