O Rio Grande do Sul no imaginário social

Tema escolhido para o desfile do Dia do Gaúcho deste ano abordou mitos, lendas e contos referentes à tradição do Estado

Nossa senhora, madrinha do Negrinho do Pastoreio

O tema definido pelos participantes do Congresso do MTG para o desfile do Dia do Gaúcho, que aconteceu de ontem, foi “O Rio Grande do Sul no imaginário social”, que busca resgatar a origem do gaúcho dentro do imaginário social, abordando mitos, lendas e contos, que podem ser representados através da dança, do teatro, dos desfiles e de mostras folclóricas. A proposta foi do historiador Rogério Bastos, tradicionalista e coordenador de imprensa do movimento.

OBJETIVO

O tema foi escolhido de maneira que cada indivíduo encontre seu lugar e sua razão de ser no tempo e no espaço. O imaginário resulta de um vasto conjunto de imagens, símbolos e ritos, enfim, do conjunto de experiências coletivas ou individuais de uma sociedade. Trazendo este assunto à tona, no ano de 2013, proporcionou a possibilidade de levar para as escolas, CTGs, e também, aos desfiles, de todo o nosso estado, um tema de grande reflexão da importância do estudo do imaginário, como se pôde ver ontem, em Sant’Ana do Livramento.

IDEIA

O povo do Rio Grande do Sul sempre falou a respeito de personagens como os lobisomens e as bruxas

É a oportunidade de analisar a origem do gaúcho por outra ótica, que não as já apresentadas nos outros anos. Pelos mitos, lendas e contos, podemos ver a origem e ainda “viajar” pelas batalhas e guerras que construíram esse ser, que hoje, definimos por gaúcho.

O DESFILE

Alguns carros que participaram do desfile, na manhã e tarde de ontem, contavam um pouco da história do Estado através de representações que caracterizavam “Contos, mitos e lendas do Rio Grande do Sul”, tais como: 

A lenda do M Boitatá – a cobra de fogo

Conta-se, entre a gauchada das estâncias, que nos passeios e viagens à noite aparece um fogo valente e, às vezes, em forma de cobra, que voa na frente dos cavaleiros, impedindo que sigam. Há crença entre a gente do campo de que o Boitatá se deixa atrair pelo ferro. O meio para livrar-se do ataque consiste em desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. O Boitatá atraído pelo ferro da argola do laço deixa o andante e segue atrás até amanhecer o dia.

O imaginário – João Simões Lopes Neto

João Simões Lopes Neto, escritor e empresário, foi homenageado como parte do imaginário do povo Rio-grandense

Os carros que desfilaram em todo o Estado, inclusive em Sant’Ana do Livramento, poderiam utilizar João Simões Lopes Neto, escritor e empresário, como representante literário do imaginário social do nosso Estado.

A Salamanca do Jarau

O palco da lenda é o Cerro do Jarau, formado por uma cadeia de morros, que se destacam na paisagem do pampa gaúcho, no município de Quaraí. Simões Lopes Neto desenvolveu o tema com elementos que decorriam das superstições locais. Temos o sacristão dado às artes mágicas, envolvido pela tentação. Aliados a este tema, a ocupação moura na Península Ibérica, a princesa encantada, os tesouros escondidos apresentados na forma de serpente, lagartixa, o carbúnculo ou teiniaguá dos guaranis, elemento originário do novo mundo.

A lenda do Negrinho do Pastoreio

A lenda nasceu das lembranças dos campeiros, marcado pelo terror e crueldade, misturada com o desejo de compensação e de esforço que devia vazar-se em forma religiosa. Para seu transplante lendário, concorreram vários fatores, desde baixas formas de crendices, ainda visível nos dias de hoje, até a profunda vibração de solidariedade humana, que transformou símbolo de uma raça. Simões Lopes a estilizou, introduzindo no cenário, Nossa Senhora, a ser madrinha do negrinho, madrinha dos que não tem, deu-lhe uma graça perfeita, mais luz. A lenda do Negrinho do Pastoreio é genuinamente rio-grandense, nascido da escravidão e refletindo o meio pastoril, o poder, e a religiosidade que é associada aos outros tantos casos de escravos considerados mártires.

O Mate do João Cardoso

O carro caracteriza as crendices do povo gaúcho como as rezas

Os contos de João Simões Lopes Neto, sua linguagem, representam a sensibilidade e um regionalismo espontâneo como exímio contador de histórias. O Mate do “João Cardoso”, um dos mais populares contos de Simões, destaca a tradição herdada dos indígenas, a hospitalidade do mate na roda do chimarrão, bebida típica do gaúcho, o convívio, solidariedade e a fraternidade do homem rural. Vai além, mostra um período da história em que os meios de comunicação eram escassos e as novidades vinham pelos viajantes que passavam pelas terras, já tão pobre, mas sem perder a hospitalidade tão típica do gaúcho. O convite era para um mate, mas que nunca chegava.

Crendices e Superstições

Crendice é aquilo que se acredita e não teme, é sentimento de fé, convicção, simpatias, benzeduras. A superstição é um sentimento baseado no temor e na ignorância. Estão incluídos os ditos “não presta” (não presta fazer isso… por que…). As superstições variam de pessoa para pessoa e lugar, por exemplo: Uma das superstições mais conhecidas e difundidas que se conhece, está relacionada ao número 13. Passar sob uma escada, jogar um punhado de terra na cova do morto, gato preto dá azar, coruja piando próxima casa ou a sobrevoando dá azar.

Lobisomem e Bruxa

A princesa encantada, os tesouros escondidos apresentados na forma de serpente, lagartixa, o carbúnculo ou teiniaguá dos guaranis, elemento originário do novo mundo, fazem parte da lenda da Salamanca do Jarau

O mito lobisomem é a crença que determinados homens podem se transformar em monstro, meio-lobo, meio-homem. O mito no RS leva o fado do sétimo filho homem de uma família, que será fatalmente lobisomem, a menos que seja batizado pelo irmão mais velho. O mito da bruxa no RS veio da Europa, mas nada tem a ver com a bruxa de nariz comprido, com chapéu montada na vassoura. É uma mulher bonita e má, sua grande arma é o “olho grande”. Será bruxa a sétima filha do casal, quando não for interrompida por varão e batizada pela primogênita, perde o fado. Crianças embruxadas ficam amareladas, cruzam os braços e pernas. Quando aparece borboleta feia e preta nas casas, de dia, acredita-se que é a bruxa e se previne com uma figa, arruda e chifre.

Trezentas onças

Era verão, Blau Nunes viajava para comprar uma tropa de gado a mando do patrão da estância. Muito quente, ele resolveu se banhar em um arroio. Depois de banhado, descansado, seguiu viagem. Quando chegou na estância, onde passaria a noite, percebeu que havia esquecido a guaiaca próximo ao arroio. Deu meia volta e voltou para buscar a guaiaca. No caminho cruzou por uma comitiva que ia em direção à estância, mas não parou, estava com pressa. Ao chegar no local ela não estava lá. O vivente pensou até em dar fim à vida, mas resolveu assumir para o patrão que perdera o dinheiro. Voltou para a estância. Ao entrar, viu sobre a mesa a sua guaiaca com as 300 onças; havia sido encontrada pela comitiva com quem cruzara pelo caminho, como se tratava de gente “boa”, a guaiaca foi devolvida ao dono. Lembra-nos de honestidade, “fio de bigode”, confiança, elementos presentes nos valores do gaúcho.

Então…

Com o intuito de expressar todos esses mitos, lendas e contos, quatro mil novecentos e trinta e dois cavalarianos desfilaram neste 20 de Setembro de 2013, em Sant’Ana do Livramento. Gaúchos – peões e prendas – que possuem um amor incondicional pela tradição do Rio Grande do Sul.

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