Falta de planejamento e desindustrialização

São variadas as dinâmicas que compõem a economia de um país, mas o que verdadeiramente a sustenta é sua capacidade produtiva. Há burocratas que ignoram essa perspectiva, imaginando a gestão tão-somente pelo viés da arrecadação. É um cacoete de quem vive em gabinete fechado e não conhece o Brasil real – não aquele que cobra o imposto, mas aquele que o gera. Refiro-me à nação de empresários, trabalhadores, donas de casa, produtores rurais, comerciantes, profissionais liberais e todos aqueles que fazem a vida evoluir.

Apesar de ter sofrido um processo de colonização – que tende a concentrar os bens de produção –, gradativamente a sociedade brasileira foi assumindo o ativismo econômico do país. Apesar disso, permanece uma dissintonia entre o setor produtivo e certos escalões de governo. É como se o segundo fosse adversário do primeiro. Ou, senão adversário, no máximo um amigo distante e desatento. O país fica foca em metas numéricas, mas esquece de suas plataformas produtivas e as muitas oportunidades internas de gerar desenvolvimento.

A indústria está pagando esse alto preço. E não é de hoje. Não se trata de fazer um diagnóstico pessimista, pois o setor é pujante e criativo. Os maiores problemas estão nos entraves da produção e venda dos nossos produtos, bem como na lamentável logística viária. É o Custo Brasil, que diminui consideravelmente nossa competitividade. Estudos mostram que, na comparação entre artigos produzidos aqui e na Alemanha, o nosso sai 43% mais caro.

Não é difícil, portanto, entender o cenário de dificuldade pelo qual passa nossa indústria: uma das maiores taxas de juros do mundo, carga tributária abusiva, infraestrutura precária e concorrência desleal. Deixamos de produzir aqui para comprar de fora. Assim, entregamos o mercado brasileiro de bandeja para nossos concorrentes e geramos empregos no exterior. O resultado é que, em 2012, tivemos uma retração de 2,7% nesse setor.

O governo acertou em algumas medidas, tais como a redução pontual de tributos setoriais, a desoneração da folha de pagamento, a diminuição – por um período – da taxa básica de juros e programas do BNDES, como o PSI (Programa de Sustentação do Investimento). Porém, se essas iniciativas mantiveram a economia ativa por um tempo, agora não estão mais sendo suficientes. Embora alguns setores estejam bem, muito em virtude da boa safra, outros tantos periclitam.

Não temos, e aí mora o problema, um verdadeiro plano industrial para o Brasil. Estamos andando na rotina de uma a outra medida pontual, sem saber com certeza onde e como queremos chegar. A China, de diferente modo, para ficar só nesse exemplo, tem um projeto definido para 30 anos. Claro que o país não serve de paradigma em muitos quesitos, especialmente no que concerne aos direitos humanos. Porém, a lógica do planejamento industrial poderia melhorar a sintonia entre o setor produtivo e o governo, encurtando a distância, muitas vezes quilométricas, entre as demandas apresentadas e as respostas oferecidas.

 

 

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