Um Momento Infeliz

O Marcel Proust dizia que cada familia era infeliz a seu modo.Aproveitando a carona do escritor francês digo que cada indivíduo é feliz ou infeliz a seu modo.E que ninguem é sempre feliz ou infeliz.Num rápido balanço dos anos,acho que meus momentos de felicidade são mais numerosos do que os momentos de infelicidade.Mas o curioso nessa história é que não somos inteiramente responsáveis por nossos momentos agradáveis ou desagradáveis.A convivencia obrigatória com outras pessoas,próximas ou distantes,no lar ou nas ruas,gera a maioria das situações que nos fazem felizes ou não.A exceção é quando estamos sozinhos e lembramos situações passadas que nos magoaram ao invés de olharmos o passarinho que balança seu corpo frágil num fio da rede elétrica.Mas até nisso somos limitados.Por escolha consciente,sempre gostaríamos de olhar o passarinho,deixando as recordações ordinárias enterrradas num passado distante.Sem que tenhamos,porém, tempo para fazer a escolha, o nome ou a imagem de quem nos fez sofrer se intromete para dissipar ou encobrir a imagem encantadora do passarinho entregue ao seu diálogo com a luz e o vento.

Ontem,eu estava no centro da cidade e me preparava para atravessar a rua quando o sinal fechou, me impedindo de ir adiante.A fila de automóveis começou a andar,mas logo se deteve,sem espaço para avançar.E, de repente, como se eu merecesse levar pancadas em meus ouvidos, uma buzina entrou em surto. E não cessou de tocar, como se fosse acionada por um doido varrido,enquanto a fila de automóveis não se deslocou.Olhei parte do rosto do proprietário do automóvel e da buzina sem perceber qualquer anormalidade indicando que ele havia saido do hospício. Por que acionar a buzina, se a fila inteira de automóveis estava parada,sem um centímetro de espaço para avançar? Mal os automóveis andaram,senti estranha angústia de viver,imaginando que merecia mais do que estar no meio da dessarrumação grotesca de uma grande cidade.E apressei o passo para me livrar do mal estar físico que a buzina acionada por um idiota me causou.Fui incapaz, naquele momento,de preservar a felicidade que inundava meu peito por ter visto um pouco antes crianças que acompanhavam duas professoras a caminho da escola.Sou e não, portanto,responsável pela minha felicidade ou atribulações.E respeito quem não concorda comigo.Mas não vou esquecer tão cedo aquele motorista idiota, com cérebro de percevejo que, um dia,fez curso para dirigir, ganhou uma carteira de habilitação e, hoje, se considera o dono da rua, da cidade, do mundo,liberado para arrebentar meus tímpanos.Percevejos e ratos não devem ter o direito de dirrigir automóveis comprados à vista ou em prestações.

 

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