Os Sem -Nada

Nos últimos tempos noto um aumento significativo de pessoas que moram nas ruas de Porto Alegre,principalmente no centro da capital.Há quem os defina como sem-teto.Minha definição é abrangente.Trata-se de um grupo de brasileiros excluídos da sociedade organizada,que não tem absolutamente nada:nem teto,nem saúde,nem alegria,nem esperança.Eles simplesmente arrastam seus molambos de um lado para o outro,sentido-se acuados em todos os lugares.Talvez o único sossego que tem seja à noite, debaixo de um viaduto ou de uma ponte,onde se protegem do frio ou da chuva,mas, sobretudo, de canalhas agressivos sempre dispostos a maltratá-los.Pelo menos à noite,enrolados em cobertores imundos, podem fazer suas necessidades longe dos passantes,que os desprezam como se fossem ratos ou percevejos. Mas o sossego relativo dura poucas horas.Ao amanhecer eles já se esparramam pelas ruas à procura de um prato de comida ou de um simples pedaço de pão para diminuir a fome persistente.E nada esperam do poder público,embora existam albergues e abrigos para recebê-los. Em primeiro lugar é difícil convencê-los de que estarão em melhores condições nos abrigos e albergues do que nas ruas.Até porque nas ruas podem beber cachaça e não tomar banho,que consideram dispensável,principalmente no inverno. Mas mesmo que fossem convencidos a sair das ruas por funcionários municipais não haveria lugar para acolher todos eles ao mesmo tempo.Trata-se, portanto, de problema sem solução à vista,que desafia a iniciativa e a imaginação do poder público.Talvez já se tenha chegado à conclusão de que sem-teto vale menos do que lixo,ao menos útil para ser reciclado.
Pois agora,faltando menos de uma semana para o início da Copa do Mundo já se tem dificuldade para ver sem-tetos nas ruas de Porto Alegre. A Promotoria de Justiça e Direitos Humanos do Ministério Público orientou o poder municipal para que os sem-teto deixem as ruas da capital,indo para albergues e abrigos, temendo que eles sejam vítimas da violência.Compreendo a iniciativa da promotora de justiça que expediu a recomendação com base em diretrizes do Conselho Nacional do Ministério Público.É digna de aplausos a disposição da promotora para defender os moradores da rua da violência,que pode aumentar nos dias da Copa. Mas por que não existe uma disposição permanente nesse sentido? Fora do período da Copa esses brasileiros desvalidos não estão expostos aos mais diversos perigos?Até parece que a iniciativa de levar os moradores de rua para abrigos e albergues tem como objetivo oculta-los do olhar dos turistas que visitarão Porto Alegre.Fica essa impressão,mas não quero nem devo referendá-la,embora tenha ouvido muitas afirmações nesse sentido.Mas vou torcer para que haja,a partir de agora, na capital, interesse permanente das autoridades com o estado miserável em que vivem cetenas de moradores de rua.Se não há locais em quantidade para abrigá-los,que se construam novos centros de acolhimento. Aí,sim,estaremos diante de um legado objetivo da Copa do Mundo.Nossos irmãos, que hoje vegetam nas ruas,ficarão muito gratos, com ou sem o sucesso da seleção brasileira na Copa do Mundo

 

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