Minhas Pernas

Em agosto de 1961,portanto há mais de meio século,realizou-se a Conferencia da Organização dos Estados Americanos(OEA),em Punta del Leste, com a presença de um personagem mitológico da politica do continente, Ernesto Che Guevara,ministro da Economia de Cuba e chefe da delegação do país.No momento em que os Estados Unidos tudo faziam para isolar Cuba do resto do continente, Guevara defendeu o regime castrista com a inteligencia de que era dotado.Ele estava no auge do seu prestígio,aos 33 anos,exatamente a idade do jornalista gaucho Flávio Tavares,que estava em Punta del Leste para cobrir a conferencia.Em relato histórico feito para o jornal Zero Hora,em outubro de 1997, Flávio Tavares lembrou:”Fluente e irônico, Guevara foi o único a falar de improviso sem sequer consultar os papéis, com números e estatísticas brotando da memória. Os dez dias da reunião o transformaram definitivamente em mito.” O jornalista e o ministro da Economia conversaram longamente em Punta del Leste.E nas suas memórias Flávio Tavares descreveu a simplicidade do ministro Ernesto Che Guevara em contraste com o comportamento de outros representantes de governos que estavam no Uruguai..Quando um jornalista quis saber porque Guevara ia a pé do hotel onde estava hospedado para o local da conferencia,ele simplesmente respondeu: ”Tengo piernas.” E precisava dizer mais,com o auxilio de um olhar irônico jogado no rosto do jornalista ?

Esse episódio histórico,que relembrei esta semana, relendo o depoimento do amigo Flávio Tavares, publicado em Zero Hora, vai servir para que eu me livre dos chatos que perguntam porque não ando num automóvel de minha propriedade.Só vou repetir o que disse Guevara em Punta del Este: “Porque tenho pernas.”E seguirei meu caminho,exercitando cada vez mais as pernas,sem cair na armadilha de um comodismo cada vez mais rejeitado nas cidades do mundo inteiro.Ao mesmo tempo pensarei no quanto de dinheiro já economizei desde que vendi uma camioneta lerda e barulhenta adquirida nos anos setenta.E não só dinheiro,mas tambem ganhei a despreocupação de quem não dirige e pode olhar a múltipla face da paisagem se reproduzindo diante dos seus olhos.Talvez eu ainda me decida investir numa bicicleta,mas não sei,não.Já vi cavalos da Brigada Militar,em Porto Alegre,disputando o espaço dos corredores criados para o uso exclusivo dos ciclistas.Não quero me aborrecer e discutir com os brigadianos e seus cavalos. Definitivamente, continuarei apostando nas minhas próprias pernas.E quem não for rengo que me siga,mas já vou avisando que ando depressa e não gosto de ser perturbado por interlocutores xaropes.

 

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