As muitas mensagens de Francisco

A passagem do Papa Francisco pelo Brasil ainda ressoará por muito tempo em nosso país e na América Latina. Mais do que isso: ressoará no mundo todo. Afinal, foi a primeira vez, desde sua eleição, que o novo Bispo de Roma deu-se a conhecer publicamente.
E fez isso com grande exposição física e intelectual. Foi direto no contato pessoal e transparente nas ideias. Comunicou a Igreja que pretende e o tipo de humanismo que postula. Expressou mensagens de fé, muitas das quais perpassam a apreciação meramente religiosa. Falou fácil, simples e direto. Por palavras e gestos.
De tudo o que disse, há repetições que não foram meramente ocasionais. Pelo contrário, elas estão entre as principais marcas de sua viagem. Francisco tocou em duas importantes dimensões humanas que se completam: a individual e a social.
Chamou cada um para o protagonismo da sua própria vida. Mesmo para aqueles que sofrem de dependência química, ele indicou a insubstituível força de vontade para sair do atoleiro. Também ressaltou o papel das famílias, que não podem delegar suas funções essenciais. Enfim, há aspectos da vivência que dependem de nós mesmos – dos indivíduos.
Por outro lado, o Papa falou da responsabilidade de uns com os outros. Ou seja, nossa dimensão social: a solidariedade. Nesse sentido, ressaltou a importância da política como uma elevada forma de fazer o bem. Criticou a corrupção dos homens e das instituições. E conclamou a todos a servir.
Também outras duas dinâmicas da dignidade humana foram contempladas várias vezes nas mensagens do Papa: a corporal e a espiritual.
Francisco disse que ninguém pode descansar enquanto uma única pessoa estiver passando fome. Ao brincar com a expressão popular de “mais água no feijão”, ele conclamou as pessoas e as nações para que enfrentem a desigualdade e os demais problemas sociais do planeta. Apontou também para o descaso da saúde e da falta de assistência, especialmente aos mais pobres.
Ao lado dessas necessidades físicas, Francisco adicionou as necessidades espirituais da espécie humana. Sem fazer um discurso sectário e fechado, conclamou as religiões ao diálogo e pediu à sua própria Igreja que se dedique ainda mais à difusão da palavra revelada. Apontou a fé como um caminho para a plenitude da vida, algo que efetivamente tem ficado em segundo plano no ambiente do consumismo desenfreado – da idolatria ao dinheiro, como disse ele.
Por fim, assinalo outra mensagem reiterada pelo Papa: o papel dos jovens e dos idosos. Aos mais velhos, pediu que não se acomodem e cumpram a missão de transmitir conhecimento aos seus sucessores. Aos mais novos, pediu que não se deixem manipular e mantenham a ânsia por um mundo melhor. Que efetivamente protestem.
Se tudo isso é uma mensagem religiosa – e realmente é –, também é, acima de tudo, uma mensagem humana. Humanista! Perpassa religiões e vai ao encontro de todas as pessoas de boa vontade e coração aberto.
E foi justamente assim que os brasileiros receberam o Papa Francisco e suas palavras. E eis que a sensação é de que amanhecemos numa segunda-feira diferente. Os problemas permanecem, é verdade. Mas, sem dúvida, estamos mais fortalecidos para enfrentá-los.

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