Papa prepara chegada a um Brasil menos católico e mais turbulento

O papa Francisco chega ao Brasil hoje (22) à tarde, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Entre os locais que o pontífice visitará estão a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, zona norte do Rio e a Basílica de Aparecida, no interior de São Paulo.

 Brasil menos católico 

Cinco meses depois de se tornar o primeiro pontífice não-europeu em 13 séculos, o papa Francisco faz na semana que vem sua primeira viagem ao exterior, visitando a sua América Latina natal para uma reunião de jovens no Brasil, maior país católico do mundo.

Francisco, que é argentino, confirmou logo depois de assumir o cargo que participaria das celebrações da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em visita de uma semana, a partir de segunda-feira.

O evento bienal, que deve atrair mais de 1 milhão de visitantes ao Rio e a outras cidades, é parte dos esforços da Igreja para energizar os católicos em um momento de ascensão de credos rivais e do secularismo.

A jornada ocorre também em um momento em que a juventude brasileira, mobilizada por uma série de protestos populares ocorridos no país inteiro no mês passado, se torna cada vez mais ativa em expressar seu descontentamento com o status quo.

A ênfase do papa na simplicidade e na atividade pastoral – em contraste com o foco doutrinário de seu antecessor, Bento 16 – desperta otimismo em muitos fiéis brasileiros. “O novo papa é mais simples”, disse Amanda Martins, de 21 anos, que assistia a uma missa em São Paulo neste mês. “Talvez a visita dele possa fortalecer a Igreja.”

A América Latina é estratégica para a Igreja atual. Embora ainda seja a região com mais católicos no mundo, a Igreja vem perdendo terreno nas últimas décadas para as denominações evangélicas, e também porque os valores da população urbana – mais voltada para o consumo do que para a fé – superaram os de uma população rural, na qual o catolicismo era mais arraigado. 

Pretexto para protestos 

O percentual de latino-americanos que se identificam como católicos caiu de cerca de 90% em 1910 para 72% em 2010, segundo o Fórum Pew para Religião e Vida Pública.

“O papa está vindo como pastor”, disse o cardeal Raymundo Damasceno, arcebispo de Aparecida (SP), cuja basílica será visitada por Francisco. “A mensagem dele irá tocar nos problemas do povo, e buscará lançar luz sobre os desafios que a Igreja e a sociedade têm pela frente.”

E, para os 120 milhões de católicos brasileiros, desafios não faltam.

Em um momento de desaceleração econômica, após uma década de forte expansão, o país está convulsionado por protestos. Mais de 1 milhão de pessoas saíram às ruas em junho para protestar contra tudo – do preço do transporte público à corrupção e os gastos com a Copa de 2014.

Embora com menor participação popular, os protestos prosseguem, ocasionalmente com violência. Na noite de quarta-feira, policiais entraram em confronto com manifestantes que saqueavam lojas, quebravam vidraças e ateavam fogo a lixeiras na zona sul carioca.

Os protestos iniciais ocorreram às vésperas da Copa das Confederações, tomada como exemplo de desperdício em um país com graves problemas nos serviços públicos. As autoridades esperam que a visita do papa não ofereça um pretexto semelhante.

São esperados protestos de feministas, ativistas homossexuais e outros grupos contrários às posições da Igreja em questões sociais.

Mas as autoridades temem também que os manifestantes reclamem dos gastos com o evento católico, estimado pelos organizadores em 350 milhões de reais para garantir a eficiência da segurança, dos transportes e de outros itens. A maioria do montante será desembolsada por participantes e patrocinadores, segundo a organização do evento, mas milhões sairão dos cofres públicos para garantir, por exemplo, segurança e transporte.

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