Brasil marca passo nos acordos comerciais

As exportações brasileiras cresceram significativamente nas últimas décadas. Foi a consequência natural e previsível do amadurecimento econômico pelo qual o país passou. Todavia, com o surgimento do Mercosul, nossa estratégia foi pesando as tintas em favor do comércio a partir do próprio bloco. No lançamento do acordo, era plausível que esse fosse o caminho – senão pelo ganho comercial imediato, ao menos pela tentativa de sustentar o que se havia criado.

Essa direção, entretanto, não acompanhou a velocidade e os formatos com que se organizavam os acordos internacionais. E além de não saber lidar com o mundo, o Mercosul até hoje não soube lidar apropriadamente consigo mesmo. Isso vale para a economia, a cultura, a educação e diversas áreas. O fluxo de negócios e conhecimento entre os países-membros deriva: numas vezes é tímido e noutras é indócil.

Fatos recentes comprovam tal constatação. A presidente Dilma Rousseff não conseguiu derrubar as barreiras impostas pelo governo argentino às exportações brasileiras. Cristina Kirchner, por sua vez, reclamou de organizações brasileiras que deixaram o seu país. Além disso, a presidente argentina estatizou concessões de linhas ferroviárias que estavam sendo conduzidas pela empresa brasileira ALL (América Latina Logística).
Porém, ao mesmo tempo em que o nosso acordo regional não deslanchou, foi vertendo uma admiração acadêmica ou até mesmo ideológica em favor dele. Quanto mais deu errado, mais surgiram seus enamorados filosóficos. Só que um pacto comercial deve gerar bons dividendos para quem dele participar, não meros arrazoados de propósitos para a humanidade. Não apenas poesia.
Aqui, então, ficamos ensimesmados numa parceira que acabou sendo mais política do que econômica. Nenhum problema para o primeiro caso. Mas as coisas precisam ser chamadas pelos seus devidos nomes. A amizade política não poderia ter vindo acompanhada de uma rentável parceria econômica? Poderia, mas não foi o que ocorreu.
Agora, o enfraquecimento da balança comercial brasileira recoloca a necessidade de estabelecer relações bilaterais. Dados do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) mostram que, nos primeiros cinco meses de 2013, as exportações estiveram em queda – na comparação com o mesmo período do ano passado.
Detalhes preocupantes: caem tanto os preços quanto as quantias exportadas; caem tanto as vendas de manufaturados quanto as de produtos básicos e semifaturados. Na perspectiva da importação, os valores batem o recorde da década. Esse quadro gera a expectativa de um saldo de US$ 6 bilhões para este ano, enquanto em 2012 foi de US$ 20 bilhões e em 2011, de US$ 30 bilhões.
As amarras do bloco local são flagrantes. Apenas três acordos de livre comércio foram assinados no âmbito do Mercosul: Israel, Palestina e Egito – sendo que as exportações para esses países corresponderam, respectivamente, a 0,2%, 0,01% e 1% do total do que o Brasil exporta. Já com nossos grandes players – como China, Estados Unidos, Holanda, Japão e Alemanha – não temos tratados semelhantes. Enquanto isso, países como o Chile e o Peru possuem mais de trinta acordos desse tipo.
A tendência mundial aponta para a ampliação dos tratados bilaterais ou multilaterais. Os países e blocos buscam uma abertura em suas redes de transações comerciais. É o caso das recentes negociações envolvendo os Estados Unidos e a União Europeia, cujo bloco foi batizado de Tratado Transatlântico. Seus membros querem chegar a um pacto de livre comércio, o que muitos especialistas veem como uma possibilidade interessante para enfrentar a crise em que se encontram.
A Aliança do Pacífico é outra corrente nessa mesma direção. Colômbia, Chile, México e Peru impulsionaram o relacionamento que possuem, em maio, ao acordar a liberalização total do comércio entre as nações. Mesmo que ainda não haja prazo, o movimento despertou ainda mais a antítese ao perfil protecionista que impera no Cone Sul.
E enquanto grandes e múltiplos blocos se organizam para fazer grandes e múltiplos negócios, aqui estamos às voltas com pautas sui generis. Por exemplo: há poucos dias, quem assumiu a presidência do Mercosul foi Nicolás Maduro, da Venezuela. Ele é presidente de uma nação repleta de problemas políticos, econômicos e sociais e sem credibilidade para liderar qualquer transação comercial. Outro exemplo: o Paraguai, cujo retorno ao bloco foi formalmente aceito, abriu mão de integrar o Mercosul.
Não vai aqui nenhuma pilhéria aos nossos vizinhos. Pelo contrário. Conheço todos os países, sei da riqueza produtiva e das condições que possuem. Também compartilho as identidades que nos irmana e aproxima. A abordagem que faço é meramente comercial. E, nesse sentido, não podemos ficar amarrados às quizilas de um bloco com tão pouco alcance. Essa postulação é bem mais útil do que a acomodação gerada por discursos ufanistas.
Veja-se em que pé estamos no nosso comércio internacional: nosso bloco é liderado pela Venezuela e até o Paraguai o despreza! Ora, ora… Se o Mercosul vem errando desde o seu princípio, é pouco provável que agora tenha musculatura para conseguir algo melhor.
Se continuar fechado em si mesmo, seu sentido comercial tende a minguar ainda mais. E um país com a dimensão e o potencial produtivo do Brasil não pode esperar, romanticamente, que esse momento chegue. É preciso agir diferente e depressa. E não faltará quem queria estabelecer acordos bilaterais conosco.

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