O choque cultural do turismo

A preparação da Copa do Mundo e das Olímpiadas, para além das obras de infraestrutura, tem o desafio de fazer melhorar o turismo receptivo brasileiro.

Os empreendedores da área evoluíram muito nos últimos anos. O trade se organizou, conquistou avanços, investiu em novos segmentos. Porém, essa avaliação não pode olhar apenas da porta do hotel – ou de outro empreendimento – para dentro.

A dinâmica de receber turistas é bem-sucedida quando se torna uma realidade cultural, cotidiana, assimilada pela própria população. O julgamento do cliente e o seu potencial retorno vão além da qualidade da cama, do banho, do café-da-manhã ou do preço de determinado serviço.

O turista costuma fazer um julgamento de atmosfera. Isto é: ao ir embora, quando senta em sua poltrona do avião, começa a pensar em sua viagem como um todo, no sentimento que lhe restou. Se foi de frustração e incômodo, dificilmente voltará. Se foi de satisfação, provavelmente voltará.

Só que um detalhe pode fazer toda a diferença. Não basta que 95% da viagem tenha sido maravilhosa se, por exemplo, a bagagem do visitante foi extraviada num aeroporto. Ou se ele mesmo ficou perdido, sem entender as placas de trânsito e com dificuldade para comunicar-se em sua língua. Ou se foi assaltado e teve medo. Ou se uma comida fez mal e precisou ficar hospitalizado.

Nenhuma beleza natural, nem mesmo as paradisíacas paisagens brasileiras, resistem a esses aspectos anímicos. Portanto, receber um turista implica num cuidado que vai desde o momento em que ele coloca o pé no país até quando levanta voo para retornar. Além das obrigações de governos, isso envolve o comportamento da própria população nos grandes e pequenos gestos.

Tudo vai ser considerado: o jeito do atendente da loja, a boa vontade do taxista, a fila para ingressar num ponto turístico, a sensação de segurança, a mobilidade urbana, a limpeza das ruas, o fácil acesso a informações. É um sem-número de apreciações que envolvem a realidade de viajar para fora de seu país – ou até mesmo de sua cidade.

Os grandes eventos esportivos que teremos nos próximos anos serão passageiros. Vão durar poucos dias. Todavia, eles podem deixar como maior herança a elevação do nosso potencial de negócios turísticos. Nesse sentido, é necessário dar ciência da seguinte constatação: os recursos provenientes do turismo alcançam os mais diferentes segmentos, indo muito além daquelas que atuam diretamente na recepção ao visitante.

O povo brasileiro consolidou uma imagem internacional de simpatia. Agora, sem perder característica tão genuína, deve agregar novos predicados a essa percepção mundial. Além de saber sorrir, chegou a hora de nosso país provar que também é sério naquilo que precisa de seriedade. Será um avanço cultural bem maior do que a Copa e as Olimpíadas.

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