Alta incompreensível

Pela segunda reunião seguida, o Comitê de Política Monetária do Banco Central subiu a taxa básica de juros, que, assim, alcançou 8% ao ano. Em nota, a instituição afirmou que o objetivo é “colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”.

O encaminhamento, entretanto, não dialoga com a economia real. E a maior evidência disso é o fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, cujas previsões vêm sendo diminuídas gradativamente. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última semana, que nossa economia cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2013 – bem abaixo do que se esperava. Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 1,11 trilhão.

Algumas tendências se repetiram: o setor primário teve o melhor desempenho, enquanto a indústria continua patinando, mesmo com os diversos incentivos concedidos pelo governo federal. A área teve queda de 0,3%. Estamos enfrentando um ciclo vagaroso, porém permanente, de desindustrialização – resultado direto do nosso sistema tributário, de um câmbio desfavorável e do esgotamento da infraestrutura. Estamos falando de Custo Brasil.

Em um ambiente de crescimento normal, dentro das expectativas traçadas, uma alta de juros dessa proporção poderia encontrar certa explicação. Mas, como se vê, não é o que vivemos aqui. A economia está desaquecida, sentindo os reflexos da crise financeira internacional. A Europa e os Estados Unidos reagem como podem, mas por enquanto só apresentam soluções paliativas. No horizonte do curto prazo, não há perspectiva de uma estabilização do cenário.

O risco de inflação, por sua vez, parece estar sendo superestimado. Basta ver que, também segundo o IBGE, o consumo das famílias dá sinais de esfriamento. No primeiro trimestre, a variável ficou praticamente inalterada em relação aos três últimos meses do ano passado, com alta de apenas 0,1%.

Em um passado recente, houve um certo boom de consumo, gerado especialmente pelas classes sociais em ascensão. Atingiu picos de 8,5% nos últimos anos. Agora que esses segmentos já adquiriram bens básicos como carros e eletrodomésticos, não estão avançando na compra de supérfluos.

Outro dado: a taxa de desemprego passou de 11% em março para 11,3% em abril, isso nas sete regiões analisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o total de desempregados nessas regiões foi estimado em 2,491 milhões, 52 mil a mais do que no mês anterior.

O nível de ocupação nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal registrou retração de 0,4%, com a eliminação de 80 mil postos de trabalho. Também se retiraram do mercado 29 mil pessoas. Por setores: o nível de ocupação encolheu em 98 mil empregos na indústria de transformação; no de comércio e reparação de veículos e motocicletas, 47 mil.

Os juros estão caindo no mundo todo, menos aqui. Temo que as decisões brasileiras estejam sendo excessivamente pautadas pelo setor financeiro. E esse temor, repito, se dá com base na análise de dados objetivos do nosso ambiente econômico. Aumentar juros é incompreensível, até mesmo pelo viés da responsabilidade. Pelo contrário: responsabilidade, nesse caso, seria baixar a taxa Selic e fazer o país crescer mais.

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