Preconceito

Quinta feira da semana passada, no programa Conversa de Fim de Tarde da RCC, tentei discutir a situação da falta de financiamento adequado à saúde dos brasileiros.
Esta situação foi debatida pela comunidade nefrológica no V° Congresso Sul Brasileiro de Nefrologia, que ocorreu em abril deste ano, na serra gaúcha, sob o título “Qualidade Assistencial e Sustentabilidade do Tratamento do Paciente Renal Crônico”.
As conclusões do encontro motivaram a “Carta de Gramado”, divulgada em todo o País, apontando que:
1. O custo atual do tratamento dialítico encontra-se muito acima do valor repassado pelo SUS aos serviços, comprometendo a qualidade do atendimento prestado, o pagamento dos fornecedores e funcionários, além de investimento em novas tecnologias;
2. Há risco potencial para os usuário e trabalhadores dos serviços de terapia renal substitutiva se nada for feito;
3. Está havendo redução progressiva do número de especialistas em nefrologia nos últimos anos devido a pouca valorização desta área por parte do governo;
4. Diversas clínicas de hemodiálise em todo o país estão fechando por falta de profissionais qualificados, inadimplência no pagamento do serviço prestado e falta de reajuste dos valores repassados.
Abordei na rádio estas conclusões e mostrei que a realidade de Sant’Ana do Livramento é a mesma.
O Presidente da Câmara de Vereadores, Dagberto Reis, também presente no programa, reagiu perguntando: por que então não nos descredenciamos?
É uma indagação que muita gente deve fazer. Ora, se o SUS dá prejuízo, por que eles seguem atendendo?
Descredenciar a Cardio Nefroclínica do SUS e deixar sem atendimento os pacientes que dependem da hemodiálise não é solução. Pelo contrário, nossa motivação é brigar para que haja a valorização do trabalho realizado e o reajuste do valor repassado pelo SUS.
Estou certo que o objetivo do Presidente da Câmara é o mesmo nosso.
Não queremos que Livramento siga os passos de cidades como Dom Pedrito ou Cruz Alta, que tiveram seus serviços de diálise fechados, ou mesmo daquelas que não possuem o serviço por falta de interessados em investir na área.
Muito me orgulho de poder desenvolver um serviço de qualidade e trazer à nossa cidade conquistas como a Acreditação Plena, recebida pela Organização Nacional de Acreditação. Tal sucesso da Cardio Nefroclínica se dá graças a uma gestão extremamente competente e aos controles de operação que possuímos. Entretanto, estes mesmos controles apontam que, se nada for feito, nosso futuro não será de vitórias como as que comemoramos hoje. Por isso, é fundamental que haja união de todos os atores da rede para que possamos construir, juntos, um futuro melhor na saúde de nosso município. Os debates são válidos e desejáveis.
Espero, porém, que a áspera discussão que se seguiu tenha servido para revisar posições, mostrar o risco do preconceito e criar um ambiente que estimule o consenso e o crescimento. Só assim iremos colher os frutos do trabalho articulado e delegar às próximas gerações a segurança em saúde que buscamos.

Dr. João José Andreuchetti de Freitas
Diretor Geral da Cardio Nefroclínica

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