Bilhete de Osvaldo Cruz

Não sou ingenuo para acreditar que possamos viver numa sociedade sem ambições, vaidades,desavenças e agressões. Mas seria bem melhor que as pessoas fossem, mais generosas, compreensivas e tolerantes.E que nunca cedessem à tentação do crime e da maldade,pragas que se multplicam em nossas cidades,onde ninguem está livre das suas garras.Em todo caso,ainda nos resta o espaço dos lares,que pode ser nosso ultimo refúgio de tranquilidade,se pais, filhos e irmãos compreenderem que se tratam de lugares consagrados à pratica do amor, da ajuda mútua, da compreensão e do companheirismo.De minha parte, faço o que é possível para ser fiel a esses mandamentos da razão, como aprendi com os responsáveis pela minha criação.Não admito que questões menores,que motivos fúteis,provoquem confrontos dentro da casa onde vivo com minha família.Mas, para o meu desgosto,conheço histórias de brigas em familia que me deixam abatido, como se me envolvessem.Foi o que aconteceu há poucos dias quando soube que dois irmãos,meus amigos, estavam em pé de guerra, à beira da agressão física,por não concordarem com os critérios de divisão do patrimônio deixado por seus pais recentemente falecidos.E quase não resiti ao impulso de lhes mandar o texto de um bilhete do grande brasileiro Osvaldo Cruz que, antes de falecer, escreveu para seus filhos.Na esperança de que muitos leitores meditem a respeito do seu conteúdo, transcrevo o bilhete-testamento do famoso combatente da saúde pública,de extraordinária sensatez:” Desejo com sinceridade que não se cerque minha morte de atavios convencionais com que a sociedade reveste o ato de nossa retirada do cenário da vida.Pelo respeito que voto ao pensar alheio,não quero capitular de ridículo esses atos; julgo-os para mim perfeitamente dispensáveis.Desejaria que se poupasse aos meus a cena da vestimenta do corpo,que bem pode ser envolvido num simples lençol.Nada de convites ou comunicações para enterro,nem para missa de sétimo dia.Nem luto tampouco.O luto traz-se no coração e não nas roupas.Peço encarecidamente aos meus que não prolonguem o sentimento da minha morte, e que ajudem o tempo na benfazeja obra de esquecer.Que se divertam e passeiem:não amarguem com lágrimas prolongadas os tão curtos dias da existencia.Que desfaçam essa pequena nuvem que veio empanar a normalidade do viver de todos os dias.É preciso que nos conformemos com os ditames da natureza.A meus filhos peço que não se afastem do caminho da honra, do trabalho e do dever, que elevem bem alto o nome puro e honrado que herdei como melhor patrimônio da familia e a eles lego como o maior bem que possuo.À minha Esposa querida, tão sensivel às dores de nossa vida,peço que não encare minha morte como perda irreparável. Aí ficam nossos filhos, garantias de nossa imortalidade.Os bens de fortuna devem ser divididos por minha Esposa. Espero e rogo que nunca a questão dos bens materiais venha trazer a menor discórdia.Seria a mais dolorosa das contingencias para mim.Peço a meus filhos que acatem sem discussão a divisão que fizer minha Esposa.”

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