Sucessão geracional: responsabilidade e inteligência

Preparar os filhos para que toquem suas vidas com autonomia é um anseio de quem exerce responsavelmente a paternidade. O mercado de trabalho é repleto de oportunidades, mas também de muitas ameaças. A formação superior, outrora, praticamente garantia uma confortável posição. Mas estamos falando de, pelo menos, duas décadas atrás. Hoje, o exercício profissional requer tirocínio, rapidez, conexão e relacionamento. Nenhuma proteção é capaz de abster nossos herdeiros desses desafios, independente de sua condição social. É preciso que ganhem a vida com bases firmes, mas através de suas próprias forças.

A sucessão geracional é um tema de inspiração familiar, como se vê, mas possui forte aplicação no cotidiano empresarial, político e social. Com o mesmo denodo com que queremos lançar ao mundo nossos descendentes, os gestores devem preparar quem os sucederá. É uma responsabilidade institucional – de quem tem apreço por aquilo que governa – e cidadã – de quem tem preocupação com a civilização.

São comuns as histórias de organizações que, ao não cuidarem desse processo, chegaram ao ocaso depois de já terem estado no topo. No ambiente das empresas familiares, trata-se de algo ainda mais recorrente. Estudos mostram que uma sucessão inadequada tende a provocar, três gerações depois, a sucumbência da corporação. A segunda descendência ainda consegue valer-se dos haveres existentes, e os deprecia. A terceira, com menos haveres e mais depreciação, conduz ao caos administrativo e financeiro.

Portanto, não basta “passar o bastão”. Convém preparar os sucessores, instrumentalizá-los de ferramentas e de intimidade com o processo executivo. Caso isso não for possível, cabe delegar tal tarefa a quem queira e saiba. Erram aqueles que, por apego sentimental ao que construíram, resistem em encontrar os melhores gestores possíveis para substituí-los. Acerta quem age com olho na modernidade e na sustentabilidade da organização.

Essa oxigenação também é necessária no ambiente político. O Brasil é um claro exemplo de que muitas práticas se esgotaram pela repetição de pessoas e métodos. Isso não significa abrir mão da experiência, mas verdadeiramente incentivar e permitir que os novos vocacionados tenham chance para fazer – e fazer diferente. Trata-se de algo que precisa ser cada vez mais cultivado no ambiente partidário e governamental.

Nosso país é repleto de jovens talentos nas mais diferentes áreas. Na política e no mundo empresarial, cotidianamente me deparo com figuras que podem ter muito sucesso. Estão ali, em potência, necessitando de uma formação adequada e de uma luz, de uma chance para o exercício de suas habilidades. De uma janela de oportunidade. Precisamos estimular a formação de trainees no ambiente público.

A exceção há que transformar-se em regra no cotidiano brasileiro. Fazer com que sejamos bem-sucedidos – e falo de sucessão e de sucesso – é um compromisso da nossa geração para com as outras, seja nas famílias, nas empresas, nos governos ou na sociedade. É questão de responsabilidade e de inteligência.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.