Atual situação da universidade aqui na Fronteira

A instituição está vivendo um momento bastante difícil em relação às cobranças

Reformas no interior da universidade

“A Uergs está vivendo um momento bastante difícil”, desabafou Lucia Silva e Silva, diretora do Campus regional seis da Uergs, que abrange as cidades de Bagé, Alegrete, São Borja e Livramento. Segundo Lucia, esse momento difícil, ao qual se refere, diz respeito ao fato de que as pessoas começaram a cobrar que a universidade assuma um papel importante dentro do desenvolvimento regional. A Uergs tem doze anos de existência e o próprio Estado ainda não declarou quais os resultados esperados da universidade. “É uma vergonha, mas o Rio Grande do Sul tem a universidade estadual mais fraca do Brasil”, completou Lucia. A Instituição é fraca não no sentido de desempenho, pois os índices são excelentes, mas, por outro lado, os servidores trabalham três turnos, em decorrência da falta de professores e poucos funcionários, explicou a diretora.

“Ainda temos poucos professores”, esclareceu Lucia Silva. “Pretendemos amenizar o problema com as 57 vagas que o governo liberou, permitindo aos professores desenvolver seus trabalhos com mais tranquilidade. No momento que a instituição tiver um quadro funcional maior, ingressarão mais alunos, já que uma coisa depende da outra”, analisou a diretora. 

Agronomia 

No entanto, Lucia ressalta que esse ano teve a alegria de conseguir trazer o primeiro curso de Agronomia para a cidade. Ela frisou que não foi fácil, já que Livramento concorreu com outras duas cidades – a eleição foi ganha no conselho superior. No próximo ano, este curso estará disponível em Cachoeira e dá uma ideia de que a universidade tem uma vitalidade e está assumindo seu papel no desenvolvimento regional. “Não havia nenhuma universidade pública aqui perto que tivesse o curso de Agronomia”, destacou ela, pois o curso mais próximo é em Itaqui, e para quem mora na Fronteira fica muito distante.

Existem duas turmas novas do curso de Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial, que trabalham com a especificidade da cidade, já que Livramento tem quase quarenta assentamentos da Reforma Agrária, segundo a diretora. Ela ainda completou dizendo que existem poucas políticas específicas para tratar dessas inúmeras famílias que vieram para a Fronteira contribuir para o desenvolvimento da cidade. “É uma tarefa da Uergs, enquanto universidade, fazer a aproximação de quem é de Livramento com as pessoas dos assentamentos”, ressaltou Lucia.

“A Uergs é mais que uma universidade, é uma política para o desenvolvimento regional”, diz Lucia, lembrando as palavras do Coordenador da universidade na cidade, professor Arnor Aluisio Guedes. “Foi assim que surgiu a ideia de trazer Agronomia – dessa forma a universidade está tratando diretamente com as questões da gestão no campo”, disse ela.

A Uergs está em obras, restaurando o prédio que abriga os cento e vinte alunos na universidade da Fronteira, já que o prédio é histórico. Segundo Lucia, é o melhor prédio da universidade no Rio Grande do Sul, sem contar que é o mais significativo pela história que tem. 

Metas 

Lucia Silva e Silva, Diretora Regional

A diretora afirmou que no momento não irão chegar cursos novos para Livramento. “Nossa ideia é ficar com três cursos por enquanto, Agronomia, Desenvolvimento Regional e o Tecnólogo em Agroindústria, que deverá passar a bacharelado em ciências dos alimentos, com mudanças no interior do próprio curso”, ressaltou.

“O baixo índice de alunos se deve ao fato de que nos anos anteriores não haviam ingressado novas turmas na universidade”, disse Lucia, explicando o fato de a universidade ter apenas cento e vinte alunos. “Tivemos uma determinada pessoa na gestão passada que trabalhou para o desmonte da Uergs”, desabafou ela, completando que, no memento, a universidade está reagindo. 

Depoimento do professor e Coordenador da Unidade em Sant’Ana do Livramento, Anor Aluísio Menini Guedes 

Há quatro anos, a Uergs não tinha uma representação no Conselho Superior da Universidade, embora legalmente devesse haver essa representação. Não tinha diretor regional e o reitor era pró-tempori, nomeado pelo governador do Estado, segundo o coordenador. Ele destacou, ainda, que nos últimos três anos se realizaram as eleições para diretor regional e reitor, quando a universidade conseguiu nomeá-los.

“Avançamos no sentido de concretizar a institucionalização da universidade”

Segundo o coordenador da Uergs local, quando o reitor foi nomeado, se fez uma rediscussão a respeito do papel a ser desempenhado pela universidade, e então se construiu o PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), onde cada região fez as suas proposições. Então, quando se apontou os cursos que poderiam ser oferecidos nos próximos anos, a Uergs indicou as ciências agrárias.

“Estou no 7° semestre do curso de Tecnologia em Agroindústria. Escolhi essa área já que minha família tem uma agroindústria de queijos, foi então que me interessei pelo curso, pois é voltado ao campo também. Durante o curso, fui bolsista de iniciação científica e extensão e notei que o município tem necessidade de profissionais que se formem nessa área”.
Carla Jenice, 22 anos, aluna da universidade

“Concluí o curso de Tecnologia em Agroindústria no fim de 2012 e colamos grau em março deste ano. É um curso novo, mas que pode ser muito aproveitado no mercado de trabalho, na parte de regularização de Agroindústrias, projetos, entre outros, na área de alimentos. Não estou trabalhando na área ainda, pois não chegaram os diplomas, entretanto, já contribuí com muitos projetos. Quando estagiária no Serviço de Inspeção Municipal, em 2010, regularizei, planejei, elaborei e licenciei uma agroindústria de queijos, que já fabricava e vendia para supermercados na cidade de forma irregular. Hoje, é uma agroindústria familiar, com produto registrado, e certificado pelo selo de qualidade sabor gaúcho, graças à intervenção que fiz, ajudando e contribuindo para que tudo acontecesse. Inclusive, daqui uns dias, não sei ao certo, irá ao ar, no Globo Rural. Participo de um projeto como voluntária, desenhando a parte de instalação de equipamentos da agroindústria para outra empresa de grande porte, que trabalha com laticínios e está buscando verba para a implantação. Hoje, participo de projetos dos quais a Uergs é parceira, na forma de voluntária como no caso dos desenhos agroindustriais”.

Aline Bitante, ex-aluna da Uergs

O apoio do Estado

Coordenador da Unidade em Sant’Ana do Livramento, Anor Aluísio Menini Guedes

Em relação às demandas da universidade e à urgência com que deveriam ser tratadas, o ritmo do governo é extremamente lento, ressaltou. Houve, sim, um acordo com o governo federal, que seria um recurso através de emenda de bancada para a revitalização da universidade. Este ano, o recurso está sendo investido em Porto Alegre, o próximo será investido na Uergs de Livramento, de acordo com Aluisio. “Existe realmente uma relação diferente com o governo do Estado, levando em consideração alguns anos atrás, mas a resposta que o governo dá é muito lenta”, disse o coordenador da unidade.

Falta de professores

O coordenador enfatizou que a universidade tinha cerca de 250 professores em contrato temporário. “Por ordem judicial, há três anos, foram cancelados esses contratos, quando a instituição perdeu mais de 200 professores. No entanto, a justiça não definiu que o Estado

Salas de aula vazias

deveria repor esses professores por um concurso definitivo, e essa reposição do quadro está sendo feita quase que a conta gotas, conforme o Estado libere as vagas. Embora o governo tenha liberado alguns concursos, ainda é insuficiente o número de vagas, e seria necessário uma aceleração nesse sentido. Existem professores que precisam viajar mais de quatrocentos quilômetros para dar aula, sem contar que têm uma carga horária extremamente alta. Existe um problema de infraestrutura, porém a falta de professores é muito maior”, finalizou Arnor Aluisio Menini Guedes.

 

 

 

 

Creio que a Uergs atende as expectativas do desenvolvimento do município. Penso que a universidade alavanca o desenvolvimento no setor primário, pois para pensar em economia do município, é preciso desenvolver mais setores como de frutas, feijão, leite, o próprio mel. Precisamos de um estudo adequado à realidade de Sant’Ana do Livramento e a Uergs dá essa atenção.
Leandro Ferreira, aluno do curso de Desenvolvimento Rural e Gestão Industrial, na turma 1.

 

 

“Deveria ter mais cursos na área da comunicação. É muito restrito, faltam opções de escolha, pois não é todo mundo que gosta dessa área, apesar de morar mais pro interior do Estado”.
Juliana Mello, balconista.

 

 

 

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