Um Mestre da Crônica

Há varios anos leio e releio todos os livros do cronista Rubem Braga,nascido em Cachoeiro do Itapemerim,no Espírito Santo.Mais precisamente, desde a época em que ele escrevia para a revista Manchete,nos anos 60,ao lado de outras feras do texto como Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Henrique Pongetti.Mas antes disso Rubem Braga já tivera suas crônicas publicadas em muitos outros jornais, inclusive no Diário de Notícias, de Porto Alegre,de propriedade de Assis Chateaubriand,que construiu,desde os anos 30, um império de comunicações no país.Na época em que Rubem Braga publicava suas crônicas do Diário eu ainda não estava neste mundo e certamente meus pais, Nelson e a Alice,nem imaginavam que um dia iriam se encontrar.Mas, alem dos livros de crônicas de Rubem Braga, que guardo ciosamente na estante, ao alcance das mãos,sempre me interessei pela vida do grande jornalista.E posso garantir que seria preciso um livro de no mínimo 200 páginas para contar as idas e vindas do velho Braga entre capitais brasileiras e o exterior.Em aventuras estrangeiras,sua participação como correspondente de um jornal carioca junto a Força Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial,teria especial destaque. Tambem a temporada que viveu em Paris, como correspondente de jornais brasileiros e sua experiencia como embaixador no Marrocos, no inicio dos anos sessenta.Mas essa biografia imaginária, que ainda não foi escrita,tambem reservaria um capítulo especial para os problemas enfrentados pelo cronista,no ano de 1939,quando decidiu morar em Porto Alegre, vindo do Rio de Janeiro, onde participou da fundação da revista Diretrizes, junto com Samuel Wainer.Era claramente um jornalista engajado na oposição a Getuilo Vargas e ao Estado Novo.
Rubem Braga foi preso em duas oportunidades enquanto transcorreu sua permanencia em Porto Alegre:na chegada a capital gaucha e em antes de ir embora.Mas não foram experiencias traumáticas para Rubem Brga,porque em Porto Alegre ele teve a proteção do jornalista Breno Caldas, proprietário do Correio do Povo e da Folha da Tarde,onde trabalhou durante quatro meses,no segundo semestre de 1939.Acusado injustamente de ser comunista, Rubem Braga sempre teve coragem para dizer e escrever o que pensava,sem importar-se com a repercussão positiva ou negativa dos seus textos.Espírito libertário, comprometido até a medula com a defesa de valores civilizados,em desacordo com o figurino ditatorial,Rubem Braga foi um brasileiro admirável.E se hoje invoco seu protagonismo na imprensa brasileira é com a intenção de despertar nos jovens a curiosidade para lerem a obra de Rubem Braga, começando pelo seu livro de estréia,em 1936, O Conde e o Passarinho.Mais do que nunca os textos do Rubem Braga são uma referencia para quem deseja fazer uso do idioma com o carinho e o desvelo que merece. O velho Braga, que às vezes se mostrava excessivamente sisudo e introspectivo,era um poço de sabedoria e devotado servidor da língua portuguesa,sem nada dever aos grandes mestres daqui e de alem mar.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.