Papelão das agências de risco

Diante de toda a crise financeira internacional, como a bancarrota revelada na ilha de Chipre, pasmem para a notícia dos últimos dias: a agência de classificação de risco Moody’s anunciou o rebaixamento da nota de crédito de longo prazo da Caixa Econômica Federal, do BNDES e da BNDESPar, empresa de participações do banco de fomento.

A alegação é de que essas instituições estariam sendo usadas como instrumentos de política anticíclica do governo, provocando forte aumento dos ativos e tendo como contrapartida uma redução dos indicadores de capital.

Esse parecer seria ironia não fosse uma vergonhosa irresponsabilidade. Ora, os bancos públicos brasileiros tiveram papel relevante no enfrentamento da crise vinda da Europa e dos Estados Unidos. E efetivamente foram usados como players no ambiente de mercado, exercendo com legitimidade uma das funções para as quais foram criados.

São instituições sólidas, rentáveis, com relevante papel social e econômico. Passíveis de críticas e defeitos – sem dúvida –, mas administradas com mais responsabilidade, eficiência e transparência do que a maior parte dos bancos privados europeus e norte-americanos, para ficar na comparação mais evidente.

As agências de risco, que vivem da credibilidade das suas informações, desenham o caminho de seus próprios abismos. A propósito: tais consultorias, dentre as quais a própria Moody’s, ajudaram a agravar a crise financeira internacional eclodida em 2008. Ou, por não a anteverem, sequer impediram que acontecesse. Elas foram incapazes de detectar o que estava diante de seus próprios olhos, lá onde residem seus principais contratantes.

O Brasil tem um sistema financeiro regulado, capitalizado e com baixa alavancagem. Já fez o seu dever de casa há duas décadas, tarefa para a qual a Europa parece ainda não estar preparada. Não se trata de nacionalismo ufanista, senão que apenas de uma fria constatação. Já os bancos de lá apresentam alta alavancagem, baixa capitalização e agem com pouca regulamentação.

Houve ainda um império de irresponsabilidade. Os proventos exorbitantes recebidos pelos executivos de instituições pré-falimentares foi um dos dados dessa contradição. Esses bancos mostraram que, ao não cuidar de seus próprios negócios, menos ainda teriam condições de cuidar das poupanças alheias.

O poder público ficou excessivamente distante do setor, deixando que o barco fluísse sozinho, na onda de que “o mercado se resolve”. O que se viu é que, para além das ideologias, os governos precisam estabelecer regras claras e metas de comprometimento em áreas que geram repercussão na vida de todas as pessoas, como é o caso da financeira.

A Moody’s, bem como tantas outras agências de risco, deveria rever seus conceitos antes de cometer verdadeiras gafes – e irresponsabilidades – na divulgação de seus pareceres.

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