Pagamento dos bagunceiros

Já não existe aquele ardor cívico que movia as pessoas e as levavam para as ruas para levantar cartazes e desfraldar bandeiras em prol de alguma manifestação política coletiva. Hoje, aqueles atos foram profissionalizados. Os cabos eleitorais que visitam vilas e bairros e batem de porta em porta para distribuir santinhos e elogiar determinado candidato são remunerados, portanto o entusiasmo de hoje tem preço.

Diante destes tempos nos quais ninguém prega prego sem estopa, me pergunto quem teria financiado aquelas claques que tumultuavam as apresentações da cubana Yoani Sánchez nas várias cidades nas quais ela visitou? Convenhamos, duvido que aquela gente soubesse o significado daquelas frases impressas em cartazes que faziam panejar. A balbúrdia era por conta do cachê a receber.

Esta aí um assunto que poderia interessar à Polícia Federal. Há clara verossimilhança da existência de um ato político pago e, se pago, foi com dinheiro sem justificada origem ou que poderia ter vindo do Exterior. A imprensa noticiou com antecedência e o Palácio do Planalto não desmentiu que aquelas recepções para a blogueira foram programadas pela embaixada cubana e com a instrumentalização de partidos e organizações brasileiras. A meu ver, clara e explícita intervenção estrangeira em assuntos nacionais. Como o governo tinha conhecimento prévio do que iria acontecer, tudo foi abafado e não haverá qualquer repercussão futura.

Quando assistia pela televisão o aparecimento da cubana Yoani Sánchez em algum lugar público e imediatamente iniciava uma gritaria estridente para não deixar alguém falar, veio à memória o meu tempo de estudante quando era um dos delegados gaúchos nos congressos da União Nacional de Estudantes (UNE). Fui a congressos e reuniões no período 1960/63, depois os militares acabaram com a entidade. As passagens aéreas e estadia eram bancadas pelo governo federal que subsidiava a UNE. Tudo de graça.

Naquela época a chamada guerra fria estava no auge, ou alguém apoiava a cortina de ferro (URSS) ou o imperialismo americano (EUA), não havia meio termo nas reuniões da UNE. Além disto, como hoje, se a economia brasileira ia mal e a educação periclitava, a culpa era do imperialismo americano. Lembro que em um dos congressos foi convidado para falar o deputado federal Francisco Julião, que era o mentor das Ligas Camponesas do Nordeste e os opositores não o deixaram se pronunciar.

Se o palestrante fosse do lado marxista o outro lado armava um fuzuê de tal monta que impedia qualquer palavra do orador. Se o convidado fosse do lado inverso, os adversários é que não deixavam o orador falar. O Congresso da UNE durava três dias e eram assim todas as plenárias. O único objetivo era a eleição do futuro presidente da entidade, que, na maioria das vezes se elegia alguém da ala marxista. Passaram 50 anos e tudo continua como dantes.

Renato Levy

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