Dez meses depois

Já se passaram dez meses do incêndio que levou a óbito 242 pessoas na boate Kiss em Santa Maria, mas ficarão sequelas indeléveis naquela comunidade. Apesar deste lapso de tempo ainda se acompanha pelos meios de comunicação discussões absolutamente despiciendas e sem qualquer finalidade construtiva.

Quando acontece uma carnificina desta natureza as ditas autoridades querem descobrir os culpados e responsabilizar alguém que sirva de bode expiatório, Discutem-se teses absolutamente inúteis e inapropriadas para a solução do evento ou reparação dos prejuízos.

Em julho de 2013 um incêndio destruiu parte do Mercado Público de Porto Alegre. Feita a perícia alguns dias depois os técnicos informaram que possivelmente uma fritadeira elétrica (esquecida ligada, possivelmente) teria ocasionado um curto-circuito na rede elétrica e o fogo se propagou para o restante do prédio. A primeira discussão que surgiu era saber se a Prefeitura de Porto Alegre, como proprietária do Mercado Público, mantinha em dia os alvarás dos bombeiros e vistorias contra incêndio.

Se na boate Kiss houvesse um cartaz na parede com o alvará em dia dos bombeiros na hora do incêndio, iria impedir que o fogo se alastrasse depois que um psicopata insano acendeu fogos de artifício que continham pólvora em um ambiente fechado? Será que o alvará em dia do Mercado Público iria impedir que alguém esquecesse a fritadeira ligada, quando fechou o restaurante?

No caso da boate Kiss havia precedentes similares e que, mesmo assim, não foram capazes de desestimular um doido de utilizar fogos. Há dez anos antes, em uma boate de Rhode Island nos Estados Unidos, as utilizações desta pirotecnia pela banda mataram 100 pessoas e deixaram muitos feridos. Em dezembro de 2004, na boate Cromagnóm em Buenos Aires morreram 190 participantes da festa pelas mesmas razões.

Na reportagem que uma revista de circulação nacional publicou sobre a figura identificada com o Rei do Camarote e depois as redes de TV apresentaram vídeos das festas, observa-se que os garçons trazem as garrafas de champanhe com fogos de artifício para chamar a atenção dos presentes e valorizar o camarote e o patrocinador da festa. Neste caso, o alvará dos bombeiros em dia poderá evitar um desastre semelhante que possa ocorrer?

Será possível que ninguém aprendeu que é uma bomba relógio utilizar pólvora em ambientes fechados, poluídos pelo cigarro e outros quejandos? Francamente, não sou psiquiatra para traçar uma análise destes figurantes, todavia o senso comum nos ensina que brincar com explosivo não pode gerar bons resultados.

É evidente também que não será pela falta de alvarás ou prévias vistorias que esta espécie de tragédia acontece. No caso das boates aqui mencionadas a imprudência deve ser consequência de ingestão de alucinógenos que são muito utilizados nestes ambientes a fim de alcançar efeitos radiosos.

Renato Levy

 

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