Tempo Quaresmal

Desde os primórdios do Cristianismo, vigora na liturgia da Igreja um “tempo de quarenta dias”, denominado Quaresma, no qual os cristãos vivem mais intensamente os exercícios de espiritualidade penitencial no processo de conversão, ou seja, a busca progressiva da santidade de vida, no simbólico “deserto”, à imitação do Divino Mestre, Jesus Cristo, que foi ao deserto e, lá, esteve quarenta dias, refazendo os quarenta anos em que o antigo povo de Israel peregrinou no deserto em demanda à Terra Prometida por Javé ao seu povo escolhido, por especial privilégio, para que ele fosse o povo – testemunha de fidelidade ao único Deus verdadeiro junto aos outros povos da Terra inveterados na idolatria, prestando culto de adoração aos deuses imaginários. Jesus, no deserto, passou os quarenta dias sem tomar alimento algum. Ali, o demônio prevaleceu-se da experiência penitencial do Filho do Homem (Jesus Cristo) para tentá-lo em três momentos significativos, a partir da fome que, sem dúvida, enquanto homem, estaria debilitado: satanás, então , lhe propõe, como prova de sua divindade, que uma pedra se transformasse em pão. O Senhor repele o tentador, dizendo-lhe: “não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Retira-te, satanás: não tentarás o Senhor teu Deus.” (ls 4,3 e4).
Este episódio na história da salvação marcou para a humanidade de todos os tempos e lugares uma característica penitencial, adotada na Igreja como um “tempo oficial” de penitência, levando-nos ao “deserto” da vida recolhida e silenciosa, por várias modalidades, segundo as situações sociais de cada pessoa. Até mesmo Ordens religiosas penitenciais permanentes, durante a Quaresma, fazem um maior retiro espiritual, restringindo correspondência epistolar, etc…
A Quaresma tem inicio na Quarta-feira de Cinzas, sob um forte convite à penitência, com jejum e abstinência de carne, continuando ao Domingo de Ramos, inclusive, que é a entrada da Semana Santa, os dias mais intensos de espiritualidade orante e práticas de misericórdia, com gestos concretos do amor cristão, servindo a Deus na pessoa de nossos irmãos, sobretudo, os mais carentes dos meios de sobrevivência, no mundo hodierno, “onde Deus está ausente”, como se expressou, recentemente, o Santo Padre, Bento XVI, ao relacionar o mandamento do maior a Deus e ao próximo. Somente vivendo a Quaresma e a Semana Santa com as devidas disposições cristãs, com plena participação de todas as atividades eclesiais, poderemos celebrar a Páscoa, a ressurreição do Senhor, na verdadeira alegria escatológica, que não é aquela que o mundo nos apresenta com euforia absurda, até, carnavalesca e bailarina em tempo sagrado e respeitoso, o que, realmente, constitui um grave escândalo, ou seja, motivo para que outros façam o mesmo, desencadeando , assim, um permissivismo escandaloso. Do escândalo Jesus nos diz:”Ai daquele por quem ele vier; melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado no mar, do que levar o mal a um só destes pequeninos…(cf.mt 18, 6;mc 9,41;lc 17, 1 e 2)”.
O espírito quaresmal leva o cristão a viver, incondicionalmente, a fraternidade universal como instrumento primordial de transformação social. Daí, no exercício da Quaresma, todas as circunscrições do mundo católico, de uma maneira ou outra, emprenham-se na conscientização do amor fraterno. No Brasil, há várias décadas, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos) instituiu a CAMPANHA DA FRATERNIDADE que, neste ANO DA FÉ, em vista, também, da Jornada Mundial da Juventude a realizar-se na cidade do Rio de Janeiro, de 23 a 28 de julho, tem por tema: “Fraternidade e Juventude”e por lema:”Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8). A atual “Campanha da Fraternidade tem por OBJETIVO GERAL acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz”. Consequentemente, emergem três objetivos específicos, sintetizados na vocação de discípulos missionários, a acolhida afetuosa das comunidades da fé católica, dando-lhes acesso à uma participação ativa, “para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum”.
Não obstante a crise econômica aliada à crise de fé em nossa Pátria, a Igreja espera, também, a generosidade dos fiéis quanto ao gesto concreto de fraternidade na coleta da Campanha da Solidariedade 2013, que será realizada no Domingo de Ramos, encerramento oficial da CAMPANHA DA FRATERNIDADE , em todas as comunidades eclesiais do Brasil.

Pe. Hermes da Silva Ignácio

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