Mês Missionário e do Rosário

Hámuitíssimas décadas, outubro é, de modo especial, o mêsem que, como cristãos, somos convidados a refletirmosmais profundamente à missão que o SenhorJesus Cristo nos confiou, sobumaordemexpressa, quandoproclamou de viva voz aosseus discípulos, namontanha da Galileia: “Toda a autoridademe foi dada no céu e naterra. Ide, pois, ensinai a todas as nações; batizai-as emnome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos mandei. Eis que estouconvosco todos os días, até o fim do mundo” (Mt 28, 18-20). Os discípulos de Cristo se fizeramtais, para serem enviados pelo Divino Mestre a todos os recantos da terra, levando a Palavra de Deus como suporte e fundamento da mesma e íntegra missionariedade divina, conferida aoFilhoUnigênito do Pai.

Concomitantemente à explícita Palavra de Deus vivida commaiorintensidadeemsetembro, culminando com o Dia da Bíblia, no último domingo do referido mês, o santo Rosário de Maria caracteriza as Santas Missões pela força e incomensurável valor da oração, evidenciando os principaismistérios da FéCristã, ressaltando, outrossim, a contemplação da presença de Deus por parte, também, daquelesirmãos que se encontramimpossibilitados de um apostolado ativonasociedade, v. g., os acamados, os cadeirantes, etc. Santa Teresinha do Menino Jesus, ao lado de São Francisco Xavier o grande missionário das multidões, foi proclamada Padroeira das Missões, vivendo no recolhimento do claustro, emcontínuacontemplação, oração, humildes trabalhos e penitências, cuja debilidade física nãolhepermitiuvivermais do quevinte e quatro anos, emmeio a tantos sofrimentos, emperfeitauniãocom Cristo Jesus crucificado.

Toda a história da Igreja, em tempos passados e hojeainda, demonstra-nos os heróicosserviços do Reino de Deus, através da ação de missionários, homens e mulheres, que se consagraram totalmente a Deus, servindo-o nos irmãos e irmãs, para que pudessemviver a alegria espiritual, que só é dada aoconhecimentodaqueles e daquelaspessoas dotadas de sabedoria divina…

É-nos impressionante a atuação dos missionários: bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e leigosmuito próximos a nós, na América Latina, inclusive, no Brasil. No dia nove de setembro, a liturgia traz a memória de São Pedro Claver, sacerdote jesuíta, que foi o grande missionário da Colômbia, onde, em Cartagena, um dos trêsportosnegreiros da América Espanhola, o santo sacerdote passoutrinta e oito anos como missionário dos escravos. “Aíchegavam, anualmente, de doze a catorzenavioscarregados de escravos, numacondiçãotão penosa e desumana, que umaterça parte morrianatravessia do oceano. Os escravoseram conservados emporõesescuros, úmidos, de ar mofado, amarrados pés e mãoscomargolas. Tomavamuma única refeição por dia, feita de farinha de milhoousómilhocru e água, enquantocomiam entre açoites e palavrões. Com este tratamento bestial, os escravoschegavamao porto quase esqueléticos e eramamontoadosembarracõesimundos. Láficavam os infelizes, semtratamento, encurralados, famintos, seminus, numapromiscuidade de idade e sexo, expostosaosolhares curiosos e irreverentes do povo, até o dia da venda napraça pública. A imundície, o arpestilento, o calor, as imprecações de uns, os gemidos de outros, as doenças, etc., transformavamemverdadeiro inferno o albergue dos escravos. Durante quarenta anos, a vida de Pedro Claver foi servir àquelesmiseráveisescravos, como seusprópriosfilhos, lavando seuscorpos, curando as suaschagas, falando-lhes, por meio de intérpretes, palavras de consolação e de esperança, instruindo-os, dentro do possível, nareligiãocristã. Só Deus sabe do heroísmo deste santo missionário, no afã de ganhar os coraçõesrevoltados dos escravos e levá-los à conversão! Por suasmãos, durante quarenta anos, passarammais de trezentos mil escravos”.

O mercado dos escravosfoi a página maisvergonhosa da colonização das Américas. Pedro Claver e muitosoutrosmissionárioslevantaram a voz contra esta desumanidade, cujo resultado eram as perseguições e expulsões. O papa proibiu, reiteradamente, o comércio de escravos, mas a voz da Igrejanãotinhacondição de comover a cupidez dos comerciantes e das autoridades interessadas.

São Pedro Claver faleceuvítima da própriacaridade, atacado pela peste, quandoassistiaaosdoentes, no dia 8 de setembro de 1654, com setenta e três anos de idade, considerado como o protetor da Colômbia.

Situaçãonão diferente deste relato foi a do Brasil, cujosmissionáriosmuitosofreram pelas circunstâncias adversas aosseus países de origem: inclemência do tempo, deficiente alimentação e, sobretudo, maus tratos, como foi o caso dos nossostrês santos mártires riograndenses das reduções Sete Povos das Missões, culminando com a expulsão dos jesuítassobreviventes, pelo tirano Marquês de Pombal e ferrenho anticlerical. Numa carta de São Roque Gonzalezao Provincial da Companhia de Jesus narra algumasperipécias, providencialmente valiosas no campo da missionariedade. Assimescrevia: “Dividimos entre nós o limitado espaço da nossa morada, comum tabique feito de canas. Ao lado, tínhamosuma capela poucomaior que o próprio altar em que celebrávamos a Missa. Resolvemos continuar namesmapalhoça, emboratudo nos faltasse. O frio era tanto que nos custava adormecer. O alimento tambémnão era melhor: milhooufarinha de mandioca, que é a comida dos índios; e, porque começamos a buscar pelos bosques umaservas que se alimentam os papagaios, com este apelido nos chamavam”.

Para nãomais me delongar, quero, atravésdestespoucosepisódios, refutar aquelaspessoas, inclusive, professores da história da América e do Brasil, ufanososde grande cultura, que acusam a Igreja de conivênciacom as injustiças e todas as aberrações criminosas cometidas pelos exploradores da nossaPátria. Encarecidamente, convido àspessoas de fé católica a rezarem, fervorosamente, o Santo Rosário de NossaSenhora pela evangelização de todos os povos. Ajuda-nos muito o RosárioMissionário, que traz, em cada dezena, as respectivas cores representativas dos cinco continentes.

Pe. Hermes da Silva Ignácio

 

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