Relíquias dos Santos e coisas sagradas

Ao ensejo da memória litúrgica de São Januário, comemorada a 19 de setembro, ressaltando o sangue coagulado que se liquefaz naquele dia, é-me propício fazer uma reflexão sobre o valor das relíquias dos santos do Antigo e do Novo Testamento, com relatos bíblicos, trazendo exemplos concretos de profetas, do próprio Cristo Jesus e dos apóstolos, dando sequência às experiências históricas, através dos muitos milagres de santos, cujos corpos ou órgãos corporais são conservados incorruptos ao longo de séculos, e objetos servidos por Deus para manifestar o poder de suas graças. Menciono tão somente alguns da grande lista dos miraculados: No Antigo Testamento, II Rs 2, 13 e 14, “(Eliseu) apanhou o manto que Elias deixara cair, e voltando até ao Jordão, parou à beira do rio. Tomou o manto que Elias deixara cair, feriu com ele as águas, dizendo: Onde está o Senhor, o Deus de Elias? Tendo ferido as águas, estas separaram-se para um e outro lado, e Elias passou”.

Os hebreus conservavam religiosamente as relíquias. Choraram durante trinta dias a morte de Moisés no túmulo. Já o próprio Moisés havia levado do Egito o cadáver de José: “Os israelitas partiram do Egito em ordem. Moisés levou consigo os ossos de José, porque este fizera os filhos de Israel jurarem: Quando Deus vos visitar, levareis daqui os meus ossos convosco” (Ex 13, 18b e 19). Os cristãos imitaram-lhe o exemplo. Os túmulos dos mártires foram, desde a mais alta antiguidade, os sítios onde se encontram igrejas e altares para, ali, celebrar o santo Sacrifício do Senhor. Reminiscência das celebrações eucarísticas nos túmulos dos mártires são as “pedras d’aras”, colocadas nos altares onde é celebrada a divina Eucaristia. A igreja conserva as relíquias em preciosos relicários e adorna-as com flores e pedras preciosas, porque são partes integrantes do corpo que foi habitação do Espírito Santo (1 Cor 3,6) e são como semente, donde germinará um corpo glorioso no dia da ressurreição (1Cor 15, 42). Disse São Jerônimo: “Veneramos as relíquias dos Santos para adorar Aquele em quem e por quem eles morreram”. O próprio Deus honra as relíquias, porque se serve delas para operar milagres. O Concílio de Trento, 25 proclamou que o culto das relíquias obtém-nos de Deus inúmeros benefícios. Através da história, temos abundantes casos de curas milagrosas obtidas nos sepulcros dos santos mártires da fécristã.

Em Jesus Cristo, vemos o poder divino curando enfermidades incuráveis pela ciência humana, comum simples toque em suas vestes, porém, com fervorosa fé. No Evangelho, segundo São Mateus, lemos: “Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se dele (Jesus) por trás e tocou-lhe a orla do manto. Dizia consigo: ‘Se eu somente tocar na sua vestimenta, serei curada’. Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: “Tem confiança, minha filha, tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada instantaneamente” (Mt 9, 20-22). “Deus fazia milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiraram-se os espíritos malignos” (Atos 19, 11 e 12).

Deus quer mostrar-nos o valor do corpo humano preservando-o, por vezes, da corrupção, na perspectiva da gloriosa ressurreição para toda a eternidade. Quase ser-me-á incontável o número de santos, cujos corpos se encontram intactos. Hoje, saliento tão somente o grande milagre do sangue do bispo São Januário, martirizado em 304, sob o imperador Diocleciano, juntamente com seu diácono Sósio e mais alguns membros do clero; foram presos, condenados e degolados. Alguns cristãos, piedosamente, recolheram numa ampola o sangue do bispo Januário, para conservá-lo como preciosa relíquia. O culto de veneração a este santo tornou-se mundialmente célebre por singular circunstância: o sangue de São Januário, conservado numa ampola na Catedral de Nápoles, é exposto no dia da sua festa e outras duas vezes durante o ano e, então, se liquefaz e adquire, de novo, a aparência de recém derramado, assumindo coloração vermelha. Sem precisar de temperatura determinada, o sangue passa do estado sólido, duro, ao estado líquido, mudando de cor, de volume e, até, de peso que duplica. “A multidão, então, prorrompe em gritos, num entusiasmo delirante”. Mais de vinte hipóteses foram formuladas, procurando explicar este fenômeno. Entretanto, nenhuma explicação natural teve êxito. Em 1902, foi realizado um exame espectroscópico do conteúdo da ampola, constatando, realmente, ser sangue humano. Há séculos, este milagre se repete duas a três vezes por ano, dando-se acesso livre aos cientistas fazerem suas pesquisas. “Só a fé consegue dar uma resposta”.

As relíquias são, pois, fontes de salvação, donde correm para nós os benefícios divinos. A veneração dos corpos dos mortos serve para restituir a saúde aos corpos vivos. É evidente que o milagre não é produzido materialmente pelas relíquias, mas pela vontade de Deus. Não há, portanto, superstição alguma na veneração que o povo cristão tributa às santas relíquias.

Pe. Hermes da Silva Ignácio

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