Aeroporto Binacional

Há um princípio que rege o transporte aéreo, indicando que não se deve construir um aeroporto em distância inferior a 100 km um do outro. A partir desta premissa seria óbvio que não houvesse razão para a construção de um aeroporto em Livramento se existe um aeroporto em Rivera a 8 km do centro da cidade e que dispõe de uma pista com revestimento asfáltico de 1.840m de comprimento. Em condições normais de pouso/decolagem a pista comporta aviões para mais de 120 passageiros.
Havendo este aeroporto com estas condições mínimas de operacionalidade para aeronaves médias para o transporte doméstico, é indispensável a construção de um aeroporto em Livramento? Não seria mais conveniente tornar o aeroporto de Rivera binacional, ou seja, explorado simultaneamente pelos dois países limítrofes? Teoricamente sim, todavia não é esta a realidade.
Em 1985, quando o presidente José Sarney visitou o Uruguai uma das propostas que os representantes desta fronteira apresentaram aos governos foi a binacionalização do aeroporto de Rivera. Naquela ocasião recebi pessoalmente a opinião desfavorável na chancelaria uruguaia. É claro que já passaram 25 anos daquela data e o pensamento da burocracia pode ter mudado.
Admitamos que o governo uruguaio concordasse em transformar o aeroporto em binacional. De imediato surgiriam vários fatores que impediriam a concretização desta medida. Tornando-se binacional a Receita Federal e a Polícia Federal teriam que passar a operar no aeroporto. Nem vou levantar a discussão se a PF poderia trabalhar lá armada ou todos os seus servidores deveriam estar desarmados em território uruguaio.
Outro problema crucial são as dimensões da estação de passageiros que é muito exígua e lá não comporta a instalação da RF e da PF. Ademais se o aeroporto se tornar binacional, com certeza alguma empresa aérea brasileira terá o interesse de fazer a conexão das capitais do Prata com o centro do Brasil com escala em Rivera. É evidente que seriam utilizados aeronaves de até 150 passageiros.
Certa vez vim de Porto Alegre num voo da BQB e aqui desembarcaram uns 25 passageiros. Como o voo era internacional todos precisaram fazer a papelada de imigração e foi um verdadeiro tumulto pela falta de espaço, enquanto que a bagagem desembarcada ficava no pátio de estacionamento por falta de espaço dentro do prédio. Então imaginem um desembarque com 100 passageiros.
É evidente que, além da sofisticada aparelhagem que se faça necessária para pouso/decolagens de aeronaves maiores, o prédio precisaria ser ampliado em mais uns 400m² de área construída para atender a dupla administração e o volume de passageiros que deverá ter. Então chega a pergunta crucial: quem faria o investimento? O governo uruguaio para atender o interesse brasileiro ou o Brasil construiria em propriedade de outro país? Estas são algumas das razões que tornam inviável o aeroporto binacional.

Renato Levy

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