O mal do fanatismo

Se há algo que não consigo entender é o fanatismo de alguns segmentos sociais que praticam os atos mais deprimentes em nome de idéias falsas. Alguém seria capaz de imaginar quanto se matou, se roubou e se estuprou ao longo dos tempos em nome de Cristo e de Maomé? De nada adiantou estar reiteradamente escrito no Novo Testamento as palavras de Jesus que o segundo grande Mandamento é o de que “amarás o teu próximo como a ti mesmo” ( Mt 22,39 e Mc 12,31), repetida em João 13,34.

O profeta Maomé também pregou o mesmo e está escrito: “Quem matar uma pessoa… será considerado como se tivesse assassinado toda a Humanidade; quem a salvar, será reputado como se tivesse salvo toda a Humanidade. (Alcorão Sagrado 5:32) Mas não fica apenas aí, o profeta de Medina também disse: “Amas a teu Criador? Ama a teu semelhante antes!’’ Como se vê, os criadores das duas maiores religiões que se expandiram nos últimos dois mil anos jamais pregaram ou estimularam a violência e o desamor na Humanidade.

A história das nove Cruzadas (1096-1271) empreendidas pelos cristãos da Europa Ocidental, para tentar libertar a Terra Santa e especialmente Jerusalém e posteriormente as perseguições raciais e religiosas promovidas pela Igreja Romana e conhecidas como Inquisição e que durou até o século 18, são as tristes e doloridas lembranças do que é capaz de produzir o fanatismo religioso.

O pensador italiano Norberto Bobbio (1909-2004) definiu o fanatismo como sendo “uma cega obediência a uma idéia, servida com zelo obstinado, até exercer violência para obrigar outros a segui-la e punir quem não está disposto a abraçá-la”. Bobbio aduz que o fanatismo está geralmente ligado ao dogmatismo, isto é, a crença num sistema de verdades que, uma vez aceito, não deve mais ser posto em discussão, nascendo aí o sectarismo e o ódio aos que pensam diferente.

A partir do século 20, a implantação dos sistemas totalitaristas na Rússia, na Itália e na Alemanha se sustentou pelas campanhas maciças de convencimento deletério das multidões. O slogan político de Mussolini era “crer, obedecer e lutar”, mas o que mais impressiona foi o fanatismo nazista de triste memória que deixou marcas indeléveis na Humanidade. Até hoje o fanatismo ainda se alimenta do suporte religioso, porém aquele que advém dos campos políticos, também é terrível e nefasto.

Bobbio nos ensina que o remédio contra o fanatismo está na maior educação intelectual e civil de uma sociedade onde há a livre discussão de idéias cujo regime se inspira na multiplicidade das vias de acesso à verdade, “portanto, na rejeição de uma filosofia ou de uma ideologia do Estado que não seja a da coexistência pacífica de todas as filosofias ou ideologias”.

 

Renato Levy

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