Educação em descompasso

Principal sustentação do desenvolvimento igualitário e perene de um país, a qualidade da educação foi novamente posta em xeque no Brasil. Desta vez, o relatório Educação para Todos – elaborado pela Unesco – expôs uma torrente de fragilidades do nosso sistema de ensino. Contabilizados avanços e retrocessos, o saldo não poderia ser mais desolador: apesar dos esforços havidos nos últimos anos, figuramos na 88ª posição no ranking, atrás de nada menos que 14 nações da América Latina. 

O estudo leva em conta quatro dados sobre 128 países, a partir dos quais é gerado o Índice de Desenvolvimento da Educação, calculado numa escala que vai de 0 a 1. Classificado na categoria intermediária, o Brasil atingiu a pontuação de 0,883 – distante do 0,995 alcançado pela Noruega, primeira colocada na classificação. Não bastasse o desempenho por si só pífio, cabe a constatação de que estamos regredindo, uma vez que ocupávamos o 76º lugar no ano passado.

O fator que mais impulsiona para trás é o fosso numérico entre crianças que iniciam o ensino fundamental e que, por fim, conseguem chegar até a quinta série. A denominada “taxa de sobrevivência”, não por menos, caiu de 80,5% para 75,6%. Ou seja, parte substancial de uma geração está simplesmente desvirtuando-se no meio do caminho. Nesse quesito, especificamente, só estamos à frente de 13 países da África subsaariana.

Outros motivos estão na raiz dos problemas da nossa educação. Nas escolas públicas, por exemplo, a média diária de aula é de 4,5 horas no ensino fundamental e 4,3 horas no médio. Uma quantidade bastante inferior ao mínimo indicado por especialistas na área: 6 horas. E, sobretudo, contraditória às experiências bem-sucedidas de implementação de turno integral e atividades complementares.

Além disso, em plena vigência da Era da Informação, uma parcela do Brasil permanece à margem de conquistas minimamente civilizatórias do nosso tempo. Quase 18 mil escolas – a maior parte delas no interior – não têm energia elétrica e apenas 37% dispõem de biblioteca. Não à toa, portanto, o Brasil está em oitavo lugar no nada lisonjeiro ranking de população adulta analfabeta, com 14 milhões nessa situação.

É inquestionável que avanços consistentes ocorreram nas últimas décadas. Como reconhece inclusive o relatório da Unesco, já alcançamos bom desempenho no atendimento universal, no combate ao analfabetismo e na igualdade de acesso entre gêneros. Contudo, o salto quantitativo deve agora dar lugar ao qualitativo. Ou seja: sintonizar nossa educação com o novo Brasil que queremos construir.

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