Memória de Natal

Vim ao mundo na véspera de Natal. Sou natalino e capricorniano.Minha mãe, portanto, estava internada na Santa Casa de Misericórdia quando as pessoas se abraçavam e erguiam brindes em suas casas para comemorar o dia do nascimento de Jesus Cristo. Mas nem ela nem meu pai tiveram pressa de escolher meu nome imediatamente.Ouviram a sugestão de uma tia minha, que lera meu nome numa revista inglesa ou norte-americana e gostara.Ainda não apareceu um idiota sugerindo a suspenssão da letra k do alfabeto português.Não houve, portanto, nenhum problema com o funcionário do cartório que atestou, nos trâmites da lei, a veracidade da minha existência.Quando iniciei minha atividade de cronista, em Porto alegre, na extinta Folha da Tarde, da antiga Companhia Jornalistica Caldas Junior, meu nome começou a se tornar conhecido alem dos limites de Santana do Livramento. Aliás, tive uma bela surpresa nesse sentido quando autografei meu livro de crônicas, Perdas e Gratificações, segunda-feira passada. Um dos jornalistas para quem dedico o livro,Walter Galvani da Silveira, meu primeiro editor em Porto Alegre, quase me fez chorar diante dos presentes na fila de autógrafos.Apresentou-me a página da minha primeira crônica assinada na imprensa da capital,com o titulo O Suicida e o Viaduto. Dividia comigo o espaço dedicado aos cronistas que escreviam para o jornal na época nada mais nada menos do que Carlos Drummond de Andrade. Nunca o guri da rua Duque de Caxias, da Vila Julio de Castilhos,imaginou estreiar como cronista de um grande jornal de Porto Alegre em companhia tão ilustre.Foi no dia 20 de outubro de 1967. Eu tinha apenas 22 dois anos em flor. Mas, pelo fato de ter nascido na véspera do Natal, alem do meu sentimento cristão, gosto muito dessa data.So que as grandes alegrias que o Natal me proporcionou nos tempos de guri já não existem mais. Tudo era mais simples, mais ingenuo, mais poético.Lembro das noites em que fiquei acordado até alta madrugada tentando surprender a chegada do Papai Noel com o seu presentinho para colocar no interior dos meus chinelos,próximo da porta do quarto.E ninguem jamais se atreveu a desmanchar o clima misterioso do Natal que eu e tantas outras crianças apreciavam.O Bom Velhinho existia, sim senhor, e vinha de regiões distantes , certamente cobertas por uma camada de gelo para nos fazer, ao menos naquela noite,imensamente felizes. O que menos importava era o preço ou a beleza do presente trazido por Papai Noel.Eu já ficaria satisfeito se ao invés de um par de chinelos, de uma bola de futebol, ele deixasse junto dos meus chinelos meia duzia de bolitas ou um catavento de papel.Quanta diferença em relação aos dias de hoje. Hoje são as crianças que impõem aos pais, sem qualquer contrariedade, o que desejam receber na noite de Natal. E muitas vezes pedem o que esta muito alem do poder aquisitivo dos pais, como os tais de tênis importados que, se não existissem, transformariam os guris de hoje em seres tristes e desamparados.Lamento.O Natal não tem nada a ver com luxo e consumismo desenfreado.

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