Estímulo ao conteúdo local

A ascensão da China, que tem menos despesas trabalhistas e tributárias, provocou um ciclo de ameaças aos parques industriais de diversos países. O Brasil também se ressente dele. Em virtude do preço, muitas fábricas são obrigadas a utilizar insumos produzidos no exterior. Há casos, inclusive, em que apenas o selo é nacional. As empresas sentem dificuldade de exportar e, internamente, de competir com os importados. O resultado não poderia ser outro que não essa tendência de desindustrialização.

Nosso país não deve seguir os parâmetros chineses no tratamento aos direitos dos trabalhadores, pois isso seria um retrocesso humanitário e democrático. Todavia, precisa estar atento para a sustentabilidade do nosso parque industrial, de modo a evitar processos semelhantes aos que ocorreram, por exemplo, nos Estados Unidos – cuja indústria foi perdendo força ao longo dos anos. Há poucas cenas mais tristes do que pavilhões abandonados e filas de pessoas desesperadas por um emprego, quando não por um subemprego.

Além da concorrência chinesa, muitas vezes desleal e predatória, o Brasil tem um amontoado de adversários caseiros que jogam contra os setores produtivos: câmbio distorcido, juros altos, excessiva carga tributária, burocracia reinante e escassez de infraestrutura. A queda na taxa Selic é uma tendência que deve ser mantida, bem como o combate aos movimentos especulativos e as intervenções no câmbio sempre que necessário.

O governo vem criando políticas de incentivo ao conteúdo local. No setor petrolífero, já existe inclusive uma certificação que define o que é efetivamente fabricado ou, no caso dos serviços, realizado por mão de obra nacional. Há poucos dias, a Petrobras anunciou a compra do primeiro guindaste offshore com esse enquadramento. Destinados às plataformas do pré-sal, um total de 20 unidades serão entregues ao longo dos próximos cinco anos com índice de conteúdo local crescente, de 20% a 65%.

Claro que esse tipo de iniciativa não pode engessar o fluxo do comércio internacional e tampouco tornar-se uma ortodoxia nacionalista. É necessário encontrar um ponto de equilíbrio, sempre priorizando a competitividade, a manutenção dos empregos e o vigor da nossa indústria. Não há registro de desenvolvimento sustentável sem um parque industrial vigoroso e competitivo. É o que precisamos manter e ampliar.

 

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