O que se espera de um pneu furado?

Bom, permito-me começar com uma pergunta.
Como um pneu furado poderia mudar a percepção de futuro para uma região?
Aconteceu comigo hoje! Um pneu furado, um pedido de socorro, uma mudança de rotina, e pronto, lá estava eu em meio aquele contexto que mudou minha visão de futuro sobre minha cidade. Tudo aconteceu na região dos cerros verdes, perto do campo limpo, onde lindeiro com a estrada está uma das maiores riquezas históricas e culturais do nosso município, que infelizmente é pouco valorizada e apreciada, me refiro a uma nobre cerca de pedra que contorna e separa as propriedades da estrada naquela área, e hoje encontrasse quase escondida pela vegetação ao seu redor, cerca essa que foi construído a suor e sangue pelos primeiros escravos que essa região conheceu. Então me ocorreram algumas perguntas, que provavelmente motivadas curiosidade por esse sentimento bairrista que cada gaúcho carrega consigo, quase que involuntariamente, me fizeram perceber com certa indignação, que quase nada sei sobre história da cidade em que nasci, foi então que percebi isso e lancei um desafio de mim para comigo mesmo. Descobrir quem foi, e como foi feito aquele perfeito mosaico de pedra bruta moldada em forma de muro, e assim buscar informações para enriquecer um pouco a minha pobre cultura histórica local, e de certa forma homenagear os que ali deixaram suas vidas em prol de um objetivo, como diria Russel Crowe em seu personagem o General Máximo Décimus Meridiuns do filme “O Gladiador” – O que fazemos na vida ecoa na eternidade! E os nobres escravos devem ser lembrados por nós pelos seus feitos quase esquecidos, ou até mesmo desconhecidos por muitos em nossa Sant’Ana.
E em meio aquele tesouro cultural do passado, me deparei com outra visão. Quando olhei por cima do muro avistei naquele belo horizonte verdade, além da criação bovina e ovina, que por décadas fomentam a economia da nossa cidade, percebi lá no fundo dos campos a imagem de um futuro do presente real, dezenas de aerogeradores gigantes, gerando uma tal de energia eólica que a pouco tempo era praticamente desconhecido para muitos santanenses, e hoje é mais nova esperança de um desenvolvimento econômico próspero para nossa cidade. Então novas palavras começaram a fazer parte de nossas vidas, e bons ventos resolveram soprar em nossas casas, ventos que alguma peculiaridade, acalma os prantos de nossas famílias que a alguns anos vinham perdendo seus entes queridos imigrando para as grandes cidades do estado e até mesmo para fora dele, com uma expectativa de apenas sobreviver em outros ares!
E foi preciso um pneu furado, um pedido de socorro e uma mudança de rotina para perceber que temos muito que aprender sobre nossa história a fim de perceber as oportunidades para planejar o futuro e escrever as novas páginas dessa nova e promissora fase de uma Fronteira da Paz.
Será que os escravos imaginavam que um dia sua obra contrastaria com uma tecnologia que retirara dos ventos energia para abastecer uma cidade com milhares de habitantes? Ou melhor, será que sabiam o que era energia?
A resposta dessas perguntas, pra mim, dimensiona o tamanho do feito que tem aquelas cercas, e permite uma reflexão para mensurar quão bem a energia eólica trará para nossa região.
Então me pergunto.
- O que mais esperar de um pneu furado daqui pra frente?
Rafael Damasceno

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