Decretada prisão preventiva do acusado de atirar na ex-esposa dentro do PA

Rodrigo Moreira confessou durante a prisão que não estava de acordo com o término do relacionamento

Delegado Roger Tavares pediu a prisão preventiva e a Justiça concedeu

A Justiça local decretou esta semana a prisão preventiva do comerciante Rodrigo Nunes Moreira, de 31 anos, acusado de ter atirado cinco vezes contra sua ex-esposa, Fernanda Camila Alves Nunes, de 22 anos, no Pronto-Atendimento da Santa Casa, no fim da tarde da última sexta-feira (23).

A vítima, que foi alvejada com um tiro na cabeça e outro na mão, continuava internada na Santa Casa. Rodrigo foi preso, na tarde seguinte, através de uma operação montada pela Brigada Militar em uma chácara, localizada na Estrada Cerros Verdes.

Segundo o delegado titular da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), Roger Bittencourt Tavares, o acusado responde ao crime de tentativa de homicídio duplamente qualificado, e poderá ficar preso até o julgamento, se assim a Justiça entender necessário.

Durante entrevista, na manhã de ontem (26), Tavares também destacou que Rodrigo preferiu se pronunciar somente em juízo. 

Entrevista 

A Plateia: Que medidas já foram tomadas na apuração deste caso?
Delegado: Ele foi preso em flagrante pelo crime de tentativa de homicídio duplamente qualificado, e já representei pela prisão preventiva, a qual foi acolhida e decretada pelo poder Judiciário.

A Plateia: O acusado possuía antecedentes criminais?
Delegado: Ele não tinha antecedentes criminais, e de acordo com vizinhos, era um cidadão trabalhador como qualquer outro, não era um criminoso contumaz.

A Plateia: Nada relacionado com agressões à vítima?
Delegado: Não tinha nada relacionado à Lei Maria da Penha.

A Plateia: Qual foi a versão apresentada por ele ou por seu advogado?
Delegado: A versão é extraoficial, pois ele optou, através de seu advogado, em falar somente em juízo. Mas ele confessou o crime, alegou ciúmes e inconformidade com o término do relacionamento. Inclusive, desde o momento em que foi preso, em relato aos policiais, ele dizia que estava arrependido e que foi um momento de bobeira.

A Plateia: A Polícia falou que durante o crime o acusado poderia estar portando duas armas?
Delegado: Apenas uma arma, um revólver .38, que a princípio foi comprado na Linha Divisória. A arma foi jogada em uma represa e não foi possível realizar a apreensão da mesma.

A Plateia: O que pode ter ocorrido antes do crime?
Delegado: Ele teria encontrado a Fernanda e sua mãe nas imediações da Câmara de Vereadores, e teria oferecido carona para as duas. Elas perceberam que ele estava alterado e recusaram. Então, ele mostrou um comportamento mais violento, quando percebeu que elas estavam tentando fugir dele.

A Plateia: O que a Polícia conseguiu apurar com parentes e amigos do agressor?
Delegado: Durante o inquérito, pretendemos fazer mais oitivas, mas a princípio era um cara calmo. Não conseguimos conversar com a vítima, para obter uma versão melhor dos fatos. Mas sei que eles trabalhavam em uma padaria, antes de tudo. E não temos relatos de comportamento agressivo.

“Pai, depois tu vai saber a verdade” – disse acusado, após o crime

Rodrigo chegando à DPPA

A família de Rodrigo Nunes Moreira, conhecido pela alcunha de Neguinho, ainda procura entender o que levou o filho mais velho a cometer este desatino contra a sua ex-esposa, Camila Alves Nunes, que foi baleada duas vezes, na última sexta-feira, dentro do Pronto-Atendimento da Santa Casa.

O pai do acusado, João de Deus Noronha Moreira, de 56 anos, recebeu a notícia através de um amigo motoboy, que comunicou o que havia ocorrido naquela tarde, em que ele trabalhava normalmente. “Minha esposa contou que ele passou em alta velocidade na frente de casa e gritou que a amava, chorando muito e sumiu, sem dar explicações”.

João de Deus relatou que Fernanda e Rodrigo estavam casados há cerca de sete anos, e que trabalhavam juntos em uma padaria que fica localizada na rua João Manoel, nas proximidades da Praça Artigas. “Um casal tranquilo. Ele levava desde comida na cama para ela. As duas famílias se dão muito bem. Confesso que não sei o que aconteceu”, contou João, enfatizando ainda que tem mais um filho, de 19 anos, e que eles nunca haviam se metido em problema algum.

Ainda conforme a história do casal, relatada pelo pai de Rodrigo, eles tinham se separado há cerca de duas semanas. Fernanda tinha ido passar um tempo em Porto Alegre, e quando voltou, Rodrigo ainda tentou reatar com ela, mas em vão, pois Fernanda não queria continuar mais com o relacionamento. “Ela o humilhou muito durante a tentativa de reatar o relacionamento. Estão tratando meu filho como um bandido, mas temos que ver a versão dela também. A verdade quem tem é somente ele e ela”.

Indagado sobre a arma do crime, João de Deus disse que não tinha conhecimento e que as últimas palavras que ouviu do filho, após a prisão, foram: “Pai, depois tu vai saber a verdade”.

Rodrigo e Fernanda, antes de se separem, residiam na rua José do Patrocínio, bem próximo ao ponto de motoboy do pai e da padaria que eles tocavam juntos.

O pai de Rodrigo, com a voz embargada, ainda disse: “A minha mulher não dorme desde sexta-feira e eu não como nada”, dando ideia do sofrimento que a família estaria passando naquele momento de tragédia.

“Quem ama não mata”, diz psicóloga

Psicóloga Débora Coradini

Caso ocorrido na última sexta-feira traz à tona a questão: existe justificativa para crimes passionais?

Embora qualquer diagnóstico dependa da avaliação de cada indivíduo, a psicóloga Débora Coradini, especialista em psicologia jurídica da área criminal, explicou alguns pontos comuns entre pessoas que cometem “crimes passionais”, na entrevista a seguir. 

 ENTREVISTA

A Plateia: Existe explicação para atos impensados cometidos geralmente por maridos que não aceitam a separação?
Débora Coradini: Esse tipo de ato se chama crime passional. Quando um dos cônjuges não aceita o término do relacionamento, ele acaba não sabendo lidar com a separação. Então, aquele amor que existia, transforma-se em ódio. Todo aquele amor depositado em uma pessoa, se não tem retorno, é devolvido em forma de ódio. 

AP: É possível verificar algum tipo de traço que demonstre a tendência a cometer esse crime?
DC: Sim, é preciso ter cuidado nesses relacionamentos em que um dos indivíduos sufoca muito a outra pessoa. As pessoas sempre dão sinais disso, e é importante ter cuidado. 

AP: O ciúme excessivo seria um desses sinais?
DC: Quando o ciúme é em exagero sim, mas tem muitos casos em que não é. O ciúme é visto como normal. O que acontece é que em um dos cônjuges não realiza o divórcio psíquico, então ele não entende que acabou e não consegue reconstruir a vida sem a pessoa. São pessoas totalmente egocêntricas, egoístas, é “o príncipe que vira sapo”. São aqueles que costumam perseguir as mulheres, por exemplo. Não é um relacionamento de amor, mas sim de posse. 

AP: O indivíduo sente-se dono da pessoa amada?
DC: Sim. Não existe um relacionamento de amor, mas sim de posse. Ele pensa que a pessoa é só dele, não somente em relação a outros homens, por exemplo, mas inclusive com os familiares e amigos. 

AP: Esse sentimento ocorre apenas de cônjuge para cônjuge, ou pode envolver outros graus de parentesco?
DC: Não. Somente é de cônjuge para cônjuge. 

AP: Com esse tipo de reação pode ser diagnosticado algum transtorno enfrentado pela pessoa?
DC: Existe um transtorno psicológico, mas depende de pessoa para pessoa, e necessita-se fazer uma avaliação aprofundada. Em

geral, não podemos julgar o comportamento do outro, pois não sabemos pelo que aquela pessoa passou para ter este tipo de comportamento. Geralmente, são pessoas que sofreram algum tipo de abandono, violência… 

AP: Traumas de infância influenciam comportamentos desse tipo?
DC: Com certeza. A nossa história infantil reflete muito no nosso comportamento quando adulto, principalmente nos relacionamentos. 

AP: Qual seria a indicação, o tratamento para este problema?
DC: Tratamento em si não existe. A pessoa pode passar tanto por acompanhamento médico, quanto psicológico, mas ela tem que, antes de tudo, querer mudar a situação. O tipo de pessoa que comete um crime passional acredita que ama somente uma vez. Mas isso não é amor, pois quem ama não mata. Isso é uma doença. 

AP: É comum a existência de pessoas passionais?
DC: Sim, muito comum. Em ambos os sexos e em casais homoafetivos.

 

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