Aids cresce no RS e põe santanenses em alerta

Cidade registra 132 pacientes portadores de HIV, sendo que destes, 96 e maioria homens,já estão em tratamento contra o vírus da AIDS

A coordenadora do SAE – Serviço de Atenção Especializada de Livramento, Rosa Maria Corrêa Osório

Acquired Immunodeficiency Syndrome. Em português, SIDA: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. Quem já não ouviu falar da doença em algum momento da vida? Seja pela televisão, nas campanhas publicitárias, seja em eventos que costumam aglomerar multidões e deixar as pessoas mais expostas, como no Carnaval, ou na situação mais delicada, quando a notícia chega através de um amigo, amiga, marido ou esposa. Os dados apresentados recentemente e que apontam o Rio Grande do Sul como o estado brasileiro que lidera o ranking de pacientes infectados no Brasil, com 40,2 casos para 100 mil habitantes, e a cidade de Porto Alegre como a primeira entre as capitais, deixa também os santanenses em alerta. Na cidade, são 132 pacientes portadores do vírus HIV, sendo 74 homens e 58 mulheres, sendo que destes, 96 estão passando pelo tratamento anti-retroviral (TARV), ou seja, fazendo uso dos chamados coquetéis.

Apesar de todo o esforço das autoridades, as formas como o contágio ainda se apresenta estão, em muitos casos, diretamente ligados à falta de informação dos portadores do HIV. Baixa escolaridade – sendo que 22% dos casos são de pessoas com Ensino Fundamental Completo, 21% com Ensino Fundamental Incompleto e apenas 11% com Ensino Médio Completo – também está entre os fatores que fazem com que muitos santanenses estejam expostos aos riscos da contaminação pelo vírus HIV. Os dados fornecidos pelo Serviço de Atenção Especializada – SAE, em Sant’Ana do Livramento, informam ainda que as faixas etárias com maior incidência de casos estão em pessoas com idades entre 20 a 34 anos (61 casos), e 35 a 49 anos (55). 

Controle, combate, prevenção, estrutura

Mesmo diante dos números, que podem ser considerados assustadores, levando-se em consideração que uma parcela significativa da população pode ser portadora e não saber, a cidade possui serviço especializado, profissionais preparados e que fazem um trabalho incessante na busca por informações e pela disseminação destas, principalmente em regiões e grupos considerados de maior vulnerabilidade.

De acordo com a coordenadora do SAE, Rosa Maria Corrêa Osório, a diferença entre o portador e o doente de Aids precisa ficar clara, uma vez que o doente somente poderá ser assim considerado quando for verificada a carga viral grande e as células de defesa estiverem muito baixas. “Somente nesse momento, quando a pessoa começa a fazer o tratamento anti-retroviral, é que podemos dizer que pessoa é aidética, ou seja, é um doente de Aids. Hoje, sabemos que 132 pacientes vieram aqui, fizeram o teste e têm o HIV. Destes, são 96 que estão em tratamento já. Na verdade, essa epidemia se mantém mais ou menos estável. O que migra é a população afetada. Tem épocas que os grupos variam. Hoje em dia, o que mais se vê são homens que fazem sexo com outros homens e que não são considerados homossexuais, mas os chamados bissexuais em relações eventuais. Temos aqui na cidade, por exemplo, quatro casos de pessoas com Aids e Hepatite do tipo C, uma doença oportunista que passa a ser considerada um agravante muito sério. Isso tem tratamento e não tem cura, e nunca é demais lembrar e informar as pessoas para que todos tenham sempre o máximo cuidado”, afirmou Rosa Corrêa. A coordenadora disse que o número de novos casos de pessoas contaminadas através do uso de drogas injetáveis quase inexiste. 

“O resultado é sigiloso e a cidade possui estrutura para atender (adequadamente os casos).”

Como chegam os portadores ao atendimento?

De acordo com Rosa Osório, a grande maioria dos santanenses que são acolhidos pelo SAE chegam através de campanhas realizadas ao longo do ano, quando são realizados exames. “Vamos aos bairros, às escolas e fazemos centro de testagem e aconselhamento itinerante, porque as pessoas não vêm. Precisamos que as pessoas saibam que o resultado é sigiloso e que a cidade possui estrutura para atender (adequadamente os casos). Não faltam, inclusive, medicamentos”, afirmou.

HIV/AIDS em Sant’Ana do Livramento

N° de casos acumulados: 199

• Masculino: 133
• Feminino: 66
• Razão (m/f): 2,0
Total de óbitos de 1996 a 2012: 60

Faixa etária com maior incidência:

• 20 a 34 anos: 61 casos (43%) – M: 31 casos; F: 30 casos
• 35 a 49 anos: 55 casos (39%) – M: 38 casos; F: 17 casos
• 50 a 64 anos: 19 casos (13%) – M: 15 casos; F: 04 casos
Categoria de exposição: sexual (Heterossexual)

Escolaridade:

• Ensino Fundamental Completo: 22,1%
• 5ª a 8ª série incompleta Ens. Fundamental: 21%
• Ensino Médio Completo: 11%

Número de gestantes HIV+ entre 2007 a 2012: 30 (90% de 20 a 34 anos)

1. Total de pacientes em atendimento pelo Serviço de Atenção Especializada em Livramento: 132

• Masculino: 132
• Feminino: 58

2. Total de pacientes c/ TARV (tratamento antiretroviral – AIDS): 96

• Masculino: 54
• Feminino: 42

3. Total de pacientes s/ TARV (tratamento antiretroviral – HIV): 36

• Masculino: 20
• Feminino: 16

Aids no Brasil

Segundo o governo, são 135 mil brasileiros contaminados e que ainda não sabem que têm a doença. O Rio Grande do Sul é o estado que lidera o ranking com o maior número de casos registrados (40,2 a cada 100 mil habitantes). A cidade de Porto Alegre é a primeira entre as capitais brasileiras.

Secretária da Saúde diz que município possui boa estrutura no combate à Aids

Éder Fialho, secretário de Saúde de Sant’Ana do Livramento.

“Ainda temos problemas de conscientização das pessoas. Acredito que esse seja o nosso maior problema e desafio a ser enfrentado”

“O município vem fazendo um trabalho que precisa ser entendido como de médio e longo prazo. Para falar da estrutura, é preciso fazer um resgate do trabalho que iniciou em 2005 e avaliar como era o serviço quando nós chegamos. Naquela época, o SAE funcionava em um espaço muito pequeno e eram poucas pessoas para trabalhar, apenas seis. Eram inúmeras dificuldades. De lá para cá, o serviço evoluiu, chegaram novas pessoas, existe muito mais sigilo nas informações e temos mais segurança. Em 2006, quando abrimos a caixa-preta e trouxemos o SAE para o PAM, muitos pacientes começaram a procurar o serviço. Naquele tempo, não tinha médico e nós conseguimos trazer o Dr. Antoninho, que fez um trabalho minucioso, profundo e sensivelmente relevante”, revelou o secretário de Saúde de Livramento, Éder Fialho. Ao falar dos gastos que o município tem com os pacientes em tratamento, ele destaca que os salários da equipe são pagos pela Prefeitura e pelo menos um veículo pertence exclusivamente ao local. O secretário de Saúde salienta que grande parte dos recursos que são alocados no SAE vêm do Governo Federal, através do Ministério da Saúde, e do Governo do Estado. “O serviço prestado hoje aumentou a sua estrutura e, como consequência, a procura. Isso se justifica por que no momento em que o serviço está mais qualificado, mais pessoas vão até o local para sanar as dúvidas. Hoje, contamos com médicos, psicólogo, enfermeiros e um número significativo de redutores de danos que vão até as pessoas em diferentes pontos da cidade”, frisou. Questionado sobre se o município investe o suficiente no combate e prevenção da Aids, Éder disse que neste momento o município está investindo o necessário. “A demanda vai aumentando gradativamente e, junto com ela, surge sempre a necessidade de aumentar os valores. Eu, atualmente, não saberia informar quanto o município gasta mensalmente. Eu acredito que o município entra com uma pequena parte em dinheiro para salários, além do aluguel do prédio”, afirmou. Éder Fialho disse que o local já passou por quatro sedes diferentes. “Um sérviço de tamanha importância precisa de uma sede própria para garantir o sigilo das informações que são dadas”, finalizou.

Conviver com o vírus: o desafio 

Foram anos convivendo com um parceiro portador de HIV, até que a transmissão se tornou inevitável

Jovem, dois filhos, sorriso farto e uma alegria de viver demonstrada logos nas primeiras palavras da entrevista concedida com exclusividade ao jornal A Plateia, pela mulher que aceitou falar sobre o seu drama pessoal, as mudanças profundas no seu modo de ver a vida e a necessidade de viver de maneira diferente. F.D.B.O., 28 anos, casada há 15 anos, descobriu que era portadora do vírus HIV há apenas um ano. Nesse período, ela também descobriu que tem hepatite C, uma doença considerada oportunista, e que agrava seu estado de saúde. F.D.B.O. sabe que contraiu a doença do marido, que já convive com o vírus há 8 anos. Em determinados trechos da conversa, a jovem não escondeu as lágrimas que vertiam, entre sorrisos de quem sabe que terá a companhia inseparável de medicamentos pelo resto da vida, ou pelo menos, enquanto a cura não chegar. 

A Plateia: Como começou tudo isso na sua vida?
F.D.B.O.: Primeiro, meu marido descobriu que tinha a doença. Ele me contou há oito anos. E faz um ano apenas que eu descobri a doença. Eu sempre fiz exames de rotina e ao vir fazer o exame, deparei-me com um positivo. Meu marido não é usuário de droga, não fuma e não bebe, portanto a gente sabe como ele contraiu. No começo, eu reagi normal, porque me casei muito nova. Ele foi o primeiro homem da minha vida e eu tinha apenas 14 anos. Em seguida, engravidei e hoje afirmo que não tinha informação nenhuma. 

A Plateia: O que mudou na sua vida?
F.D.B.O.: Para mim não mudou muito, porque eu sempre fui muito consciente. Eu havia ficado com ele todo esse tempo, mesmo depois que ele me contou que estava contaminado. Eu não esperava, mas quem está na chuva sabe que pode se molhar. A relação entre nós não mudou nada depois que descobri. No começo dá medo, mas depois a vida é normal. Agora, tomo uma bomba de remédios para hepatite C e HIV. A hepatite se manifestou agora. 

A Plateia: Como é a vida do portador do HIV?
F.D.B.O.: A vida do portador não é fácil, porque temos várias limitações. Mas, fora isso, é normal. Eu não escondo de ninguém que tenho a doença, porque acho que o maior preconceito quem faz é a própria pessoa. Eu queria que esse assunto fosse mais comentado. As meninas e meninos começam a manter relações sexuais cada vez mais cedo. Para mim, faltou informação, porque na época era um espanto e ninguém falava. Eu moro no interior do município e fiquei naquele mundo fechado. 

A Plateia: Como a família reagiu?
F.D.B.O.:A família reagiu feio no começo, porque sabiam que ele tinha o vírus e eu não. Fizeram de tudo para que eu desistisse dele. Na cabeça das pessoas que não têm conhecimento, ela segue sendo um monstro. Mas hoje em dia, com informação, sabemos que não é uma sentença de morte. A pessoa só morre quando Deus quer, e quando ela chegar não adianta se esconder. Eu passo muita informação para os meus filhos, principalmente porque tenho um filho adolescente. A vida é feita de escolhas, e eu sei que estou nessa situação porque eu escolhi. Ele me contou e eu preferi ficar casada, sou consciente disso.

CLEIZER MACIEL
cleizermaciel@jornalaplateia.com

 

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