Ocupação carioca: exemplos e desafios

Forças policiais do Rio de Janeiro ocuparam, na madrugada do último domingo, as favelas de Manguinhos, Jacarezinho, Mandela e Varginha, até então dominadas pelo tráfico. Não houve resistência, conflitos e vítimas. A ação durou pouco tempo. Agora o objetivo será encontrar drogas, armamentos ilegais, automóveis roubados ou furtados, além de criminosos foragidos.

Esse processo, comandado pelo gaúcho José Mariano Beltrame, secretário de Segurança fluminense, não é um fim em si mesmo. Ele próprio é o primeiro a reconhecer. Porém, a ação tem relevante valor imediato e simbólico. Imediatamente, devolve o território a dezenas de milhares de pessoas que vivem nas comunidades – tudo sem disparar uma arma de fogo e sem mortes. Simbolicamente, restabelece a autoridade à polícia e, por consequência, a confiança da população nas instituições.

Não é tudo, claro que não. Contudo, diante da inércia e da ineficácia que costuma imperar em grande parte das ações do poder público na área da segurança, o que estamos vendo no Rio de Janeiro é, ao menos, uma nesga de esperança. Há, ali, uma clara demonstração de que o Estado pode e deve vencer o crime. Impor-se a ele. Sem medo, sem pedir autorização, sem negociar com quem é criminoso.

Agora é preciso seguir o trabalho na dinâmica social e policial, concomitantemente. Não há verdadeira solução para o tráfico longe desses dois vetores. As crianças e jovens atraídos pelas drogas, como viciados ou operadores, precisam perceber um desenho para suas vidas longe desse mercado e desse vício. Só conseguirão evitar ou sair de tal mundo se detectarem uma finalidade existencial que se materialize em oportunidades.

A polícia, por sua vez, deve avançar na manutenção da ordem e na repressão. Não nos enganemos. É preciso prender os bandidos, os quais certamente migram de um lugar para o outro. A paz social deve ser preservada, priorizando o ambiente comunitário que foi resgatado, mas o combate inteligente, duro e permanente aos traficantes tem de prosseguir. As teias do crime estão espalhadas e de tal modo enraizadas que, para combatê-las, será necessário bem mais do que iniciativas isoladas.

O fato é que a ocupação e a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), novidade protagonizada pelo Rio de Janeiro, abriu um novo paradigma para as ações estatais na área da segurança. Se não respondem à complexidade do problema, é certo que apontam para um modo de agir que vai ao encontro de parte dos anseios sociais. E é preciso reconhecer uma evidência: a dominação de certos territórios pelo tráfico de drogas não é exclusividade carioca. São muitas as cidades, e não apenas de grande porte, em que certas áreas são pretensamente proibidas para a polícia – tamanha é a dominação do crime.

Isso não pode continuar. E o que o Rio de Janeiro está fazendo, no mínimo, é sinalizar uma clara disposição para a mudança, cujo primeiro passo é demonstrar um inconformismo ativo. Os bons exemplos sempre precisam ser colhidos para além de suas eventuais lacunas. O país tem muito a observar e a aprender com esse processo. Que ele prossiga e se aprimore cada vez mais, inspirando outros estados a fazerem o mesmo.

 

 

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