Desindustrialização: o perigo permanece

O Brasil tem anunciado uma série de medidas de estímulo ao consumo para conter os efeitos da crise financeira internacional, cujo epicentro se dá na Europa. Mas a produção industrial, que segue apresentando tendência de retração, ainda não conseguiu ser completamente beneficiária dessas mudanças. Ocorre que o aumento do consumo, de maneira isolada, não consegue reverter a compra de insumos ou mesmo de produtos prontos produzidos no exterior.

Os setores mostraram inúmeros exemplos nesse sentido nos últimos meses. Enquanto a venda de automóveis cresce, a cadeia produtiva permanece com problemas. Na área têxtil, a aquisição de roupas e afins também sobe, mas o déficit da balança comercial é recorde. A linha branca, que se beneficiou da redução do IPI, vendeu mais. Porém, não fez retroceder os gargalos de sua indústria: as montadoras aumentaram o faturamento, mas a participação dos componentes nacionais utilizados nesses bens diminuiu muito, com forte incremento das importações.

O setor de máquinas e equipamentos é um dos exemplos mais gritantes, até porque envolve a “indústria de fazer indústria”. Segundo aponta a Abimaq, a cadeia aponta significativa diferença negativa na balança comercial, tendo fechado mais de seis mil postos de trabalho em 2012. O nível de utilização da capacidade instalada é o menor dos últimos 40 anos.

Tudo isso não desmerece as medidas de incentivo ao consumo. Porém, é preciso constatar que a pretendida mobilização econômica interna muitas vezes ocorre com mais força lá fora, onde são produzidos os insumos da nossa indústria – especialmente na China. Também é lá, muito mais do que aqui, que acabam sendo gerados os empregos. É fácil de entender: quando compramos produtos cujos componentes, em sua maioria, são produzidos em parques industriais de outros países, é aquela indústria – e não a nossa – que acaba se beneficiando.

Ainda resta um amontoado de adversários caseiros que jogam contra nosso setor produtivo industrial, tais como o câmbio distorcido, a alta da taxa de juros, a excessiva carga tributária, a burocracia reinante e a escassez da nossa infraestrutura. Em virtude de todo esse contexto, determinados segmentos correm o risco até mesmo de desaparecer. As empresas sentem dificuldade de exportar e, internamente, de competir com os produtos importados. O resultado não poderia ser outro que não essa tendência de desindustrialização.

É preciso reconhecer que o governo está atento a isso, já tendo anunciado medidas específicas – muitas delas dentro do plano Brasil Maior. Além disso, também contribuem sobremaneira a redução da taxa Selic, o controle da escalada da apreciação cambial, a desoneração da folha e as desonerações pontuais jáem curso. Masainda é pouco. E é pouco porque a industria é uma das principais molas propulsoras da economia.

Essa bandeira já une sindicatos de trabalhadores e empresários. É consenso entre todos os especialistas. Além de fazer mais, é preciso colocar em prática algumas das ações anunciadas e que permanecem estagnadas na burocracia. O enfraquecimento da indústria gera um efeito negativo multiplicador, que atinge todas as áreas em pouco tempo. Quando ela vai mal, basta ver o exemplo dos Estados Unidos, toda a economia se deprecia. O Brasil deve manter a vigilância e, especialmente, agir com maior efetividade.

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