Verdades Necessárias

Acredito que o mundo seria melhor,que a sociedade seria menos hipócrita e tolerante com o mal se os homens não se omitissem na hora de dizer verdades indispensáveis. Mas o que noto, com irritação, é que em nome de um comodismo mal disfarçado,de uma omissão vergonhosa, muitas pessoas calam diante das barbaridades e injustiças que se desenrolam diante dos seus olhos.Não falam o que pensam, com medo da repercussão das suas palavras.E,assim, os cínicos e os corruptos vão agindo com desabusada tranquilidade, porque não sofrem a indispensável censura das pessoas decentes. Gostem ou não,sempre tracei o rumo do meu destino dizendo o que penso,sem aceitar em silencio complacente disparates jogados contra meus ouvidos. Não abdico das minhas opiniões nem permito que o silencio complacente me transforme em múmia.

E não pensem que sempre ouço palavras de aprovação a minha atitude. Quem não se deixa arrastar pela corrente das atitudes estudadas e calculistas paga muitas vezes um preço excessivamente alto.O espírito de manada que orienta o comportamente muitas pessoas é sempre mais aceitável para quem deseja que as coisas fiquem exatamente como se apresentam. A discordancia e a critica não contemplam na mesma medida todas as pessoas.Mas quem não lhes oferece ao menos um pequeno espaço no coração está mais para objeto imprestável do que para ser pensante.

Unamuno

Faço essas considerações para lembrar um episódio histórico que deveria ser universalmente conhecido. Estou me referindo ao inesquecível confronto verbal patrocinado pelo general espanhol fascista, Milan Astray, um dos fundadores da Legião Estrangeira, e o filósofo Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca. Ao discursar na Universidade,no auge do fascismo,Astray afirmou que o regime de Franco iria restaurar a saúde da Espanha. E,após fazer a saudação fascista, gritou um “abaixo a inteligência” e um “viva a morte”.A resposta de Unamuno foi imediata, dizendo-se incapaz de calar, principalmente quando calar significava mentir. “Acabei de ouvir um brado necrófilo e insensato: “viva a morte”. E eu que passei minha vida dando forma a paradoxos, devo declarar-vos,aos setenta e dois anos,que um tal paradoxo me é repulsivo. O general Milan Astray é um inválido de guerra: Cervantes tambem o era. Infelizmente há na Espanha neste momento um número muito grande de aleijados, e em breve haverá um número muito maior se Deus não vier em nosso auxílio. Causa-me dó pensar que o general Milan Astray esteja formando a psicologia da massa. Um aleijado destituido da grandeza moral de Cervantes tende a procurar alivio causando mutilações em torno de si.” E concluiu, depois de ouvir novos gritos de “viva a morte”:” Ganhareis,porque tendes a força bruta. Mas não convencereis. Para convencer é necessario possuir o que vos falta:razão e direito em vossa luta. Considero inútil exortar-vos a pensar na Espanha.” Unamuno foi preso e morreu dois meses depois.Mas não levou para o túmulo o travo amargo de ter se omitido diante da barbárie que invadira o templo da inteligencia.

 

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