Enredados sociais

O filósofo e educador Marshall Mcluhan criou o conceito de ‘aldeia global’, onde o mundo estaria sujeito a se transformar em espécie de aldeia pelos efeitos da revolução tecnológica: computador, telecomunicações. O planeta passaria a ser integrado via satélite, o que estreitaria as relações políticas, econômicas e sociais, alavancando dependências mútuas entre todas regiões do globo.

Partindo deste princípio, passei a pensar na aldeia global sob a ótica de nossa vida, como grãos de areia dessa enorme praia, uma microunidade ligada a outro grão e outro, mesmo que não percebamos, o que nos torna efetivamente índios que participam de única aldeia ou praia do tamanho do planeta terra.

A partir da televisão, e com mais vigor após o advento da internet, celular, redes sociais, é impossível pensar-se como ser único e isolado. Revendo o ‘Oráculo de Bacon’, jogo na web onde o objetivo é começar com qualquer ator ou atriz e depois colocar o filme em que atuou até fazer o menor número possível de ligações ao ator Kevin Bacon, tive certeza disso. Exemplo do site Oracle of Bacon: Mary Pickford que trabalhou em ‘Coquette’ (1929) com Louise Beavers que fez ‘… young caniballs’ (1960), onde trabalhou com Robert Wagner que fez ‘wild things’ (1968), com Kevin Bacon.

Penso nesse oráculo, apesar de um jogo, como uma espécie de materialização desse conceito de aldeia global, agora visto pelo aspecto pessoal, mas os efeitos da tecnologia e de um simples ‘clic’ nos podem colocar conectados com qualquer índio de outra aldeia, até mesmo os que vestem o porte de cacique ou celebridades Bacon.

Suponho que se tentar, e apelando aos meus contatos do teatro, seria possível concluir o oráculo e ter meu nome ligado ao Kevin Bacon. No que intuo que poderia também estar ligada ao Kevin arquiteto, ao Kevin escritor de um país que nem domino o idioma, ou até mesmo ao Kevin pescador de outro continente, quando sequer sei ou gosto de pescar. Mas algum ponto de nosso mundo pessoal e/ou profissional nos liga a todos os outros índios, sejam Kevins, Bacons ou até ao próprio Kevin Bacon.

A reflexão sob esse ponto de vista poderia ser produtiva no momento em que o ser humano, percebendo essa ligação natural e que os meios tecnológicos estreitaram, se tornassem um parte do outro no respeito mútuo. Afinal, se somos grãos da mesma praia, mesmo colocados em extremos, ainda somos grãos da mesma praia.

*Ana Cecília Romeu

*Publicitária e escritora

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