Comparação Inaceitável

Li esta semana artigo de autoria de um cientista político gaucho no qual ele diz que a queda do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ocorrida há poucos dias, tem semelhança com a deposição de João Goulart, em 1964.Li e não acreditei no que li, embora se saiba que o papel aceita tudo.Mas fiquei decepcionado diante da afirmação inaceitável porque tinha a assinatura de um cientista político e não de qualquer outro profissional sem maior conhecimento para fazer uma análise correta e sem ranço ideológico do que realmente aconteceu no Paraguai. Nas duas oportunidades em que os presidente João Goulart foi confrontado com feroz oposição teve os militares entre seus maiores contestadores. Foi assim em 1961, após a renuncia de Jânio Quadros, quando os ministros militares tentaram impedir a sua posse ocorrida poucos dias depois e, em 1964, quando deixou vazia a cadeira presidencial, em Brasília. No primeiro caso, a tentativa dos militares de impedir a posse do vice-presidente resultou em completo fracasso face ao movimento da resistência liderado pelo governador Leonel Brizola, no Rio Grande do Sul, que conclamou o povo através da famosa Cadeia da Legalidade. E, em 1964, Jango não teve forças para resistir, deixando o espaço político livre para que os militares implantassem a mais longa ditadura do país. Bem de acordo com o figurino tradicional dos golpes reiterados em países da América Latina e América Central nos quais a direita, articulada com militares e muitas vezes com o apoio ostensivo ou discreto dos Estados Unidos derrubava presidentes eleitos com o voto livre dos cidadãos. Mas no Paraguai nada disso que aconteceu com o ex-presidente Fernando Lugo. Ele foi retirado do poder por decisão da Câmara dos Deputados e do Senado, sem qualquer interferencia dos militares. De acordo com a Constituição do Paraguai e segundo a vontade da esmagadora maioria dos parlamentares, que consideraram o ex- presidente incapaz para continuar governando o país. Não houve, portanto, golpe de Estado ou destituição do presidente pela força das armas. Houve, sim, o previsto ritual de impeachment, em decisão harmônica da Câmara do Deputados e do Senado. Talvez um ritual muito rápido para o meu gosto, até porque Lugo não dipos de tempo suficiente para preparar a sua defesa. Mas alguem acredita que se ele tivesse mais tempo para se defender modificaria a opinião da esmagadora maioria dos parlamentares paraguaios ? Na verdade, Lugo ficou isolado no poder, porque não cumpriu promessas de campanha e não se importou em articular uma base de apoio que lhe garantisse governabilidade até o final do seu mandato. Mas, definitivamente, não houve nada no episódio comparável a deposição do presidente João Goulart,em 1964 e a de Salvador Allende,no Chile,em 1973.Assim,os países do Mercosul não deveriam se articular para o confronto com o sucessor legítimo de Lugo, Federico Franco.As tendencias ideológicas de quem vê,equivocadaente,ruptura democrática no Paraguai,não devem se sobrepor ao uso da razão e da boa política de vizinhança.O Brasil não tem nada a ganhar hostilizando ou isolando o Paraguai. Cabe ao povo paraguaio e taõ somente ele decidir a respeito do seu próprio destino.

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