A Europa em busca de uma luz

Na eleição deste último domingo, a Grécia deu vitória aos conservadores. Em outros países, como no caso da França, quem ganhou recentemente foram os socialistas. Portanto, muito mais do que uma mudança de vetor ideológico, essas transições mostram a insatisfação da população europeia com a atual situação. E o custo é debitado a quem está no poder.

Porém, uma breve análise de discurso mostrará que, do início ao fim do espectro político, não há uma solução claramente traçada para a crise daquele continente. Os partidos e os maiores líderes nacionais batem cabeça. Não há consensos mínimos. E, nesse sentido, foi correto o diagnóstico feito pela presidente Dilma há poucos dias: parece não haver luz no fim desse túnel. Ou, se existe, ela ainda não foi encontrada.

Tudo leva a crer que haverá um aprofundamento da situação. O sistema financeiro europeu não é seguro. A dívida chegou a um ponto de esgotamento, assim como o déficit público. O colchão de proteção social criado ao longo dos anos, agora se vê, foi construído sobre uma base repleta de rachaduras. O sistema previdenciário, igualmente, não paga mais a conta.

No ambiente social, basta ver as manifestações populares, não há clima para planos de austeridade. A população indica que não aceita abrir mão de quaisquer benefícios. Não é descartável uma convulsão em determinados países, cujo clima pode espalhar-se por todo o continente. E a classe política demonstra incapacidade de enfrentar o problema e construir uma agenda de futuro.

Há dois caminhos que se impõem. Um deles é a regulação do sistema financeiro, algo que o Brasil cuidou de fazer há duas décadas. Lá, esse mercado permanece desregulado, descapitalizado e com alta alavancagem. Os bancos ficaram livres demais, agiram de maneira irresponsável e colocaram em risco não apenas o dinheiro de seus clientes, senão que a própria estabilidade das nações. Se não vier acompanhado de um novo marco, o socorro que recebem não passará de paliativo. E ainda faz falta a existência de instituições públicas capazes de alcançar crédito num momento de restrição econômica.

A outra demanda é por uma nova política de austeridade fiscal. O equilíbrio entre receitas e despesas é um inevitável remédio para curar tanto um orçamento familiar quanto um orçamento público deficitário. A Europa terá de encontrar, em alguma inspiração possível, espaço para celebrar uma nova concertação social, capaz de preservar direitos e, ao mesmo tempo, dar sustentabilidade financeira a eles.

O pessimismo, porém, é fundado no fato de que o processo parece ainda não ter sido pedagógico de modo suficiente a ensejar mudanças reais. Há um vácuo muito claro no debate. Os remédios amargos não são eleitoralmente convenientes, e a população parece indisposta a ingeri-los. Sequer gosta de ouvir falar a respeito. E o investimento público não será capaz, apenas ele, de mudar essa linha descendente. O sinal de alerta precisa chegar ao mundo todo, inclusive no Brasil, porque as repercussões serão inevitáveis aqui, ali, acolá e alhures. Tomara que essa luz surja antes de um agravamento ainda maior da crise.

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