A Dentadura Postiça

Outro dia,em encontro casual num restaurante do Mercado Público,em Porto Alegre,éramos seis santanenses em torno de uma mesa.E todos apreciadores de futebol, do bom futebol, que anda tão escasso como o idealismo na politica brasileira. O bate-papo interminável no fim da tarde impediu que víssemos a chegada da noite,com a queda da temperatura e a corrida dos transeuntes em direção aos pontos de ônibus ,de táxis e a estação do metrô, e não se restringiu aos assuntos do futebol.Depois que o Pino e o Tadeu Xavier recordaram passagens de suas biografias,com menções a ex- colegas de times vivos e mortos,juntamos,no emaranhado da conversa, histórias pitorescas de Santana do Livramento e Rivera.Uma delas vale a pena ser repetida. Envolveu um malando metido a esperto e a dona de uma pensão, num subúrbio de Livramento. Cansada de explicações do malandro para adiar os pagamentos das mensalidades do quarto em que vivia, a dona da pensão resolveu agir.Encontrou a única forma que lhe pareceu certa para receber o dinheiro do aluguel atrasado em vários dias.Ao perceber que a porta do quarto alugado estava aberta e que o malandro dormia a sono solto após uma noite de boemia,ela entrou e retirou de um copo com água, posto na mesa de cabeceira, o bem mais precioso do seu hóspede:a dentadura postiça. E a escondeu no roupeiro.Ao acordar, o cara percebeu que a dentadura sumira e começou a revirar tudo,em vão.Estava num estado de espírito deplorável, que o espelho do quarto traduzia num rosto do mais puro espanto.

Santo Remédio

Depois de inútil procura,o malandro não teve outra alternativa senão informar a dona da pensão sobre o que havia ocorrido. Falava nervosamente e a todo momento erguia a mão direita para ocultar a caverna da boca.O pobre homem se mostrava no mais completo desespero,até porque ele tinha a mania de cultivar uma elegancia brega quando saia para passear. A dona da pensão pediu novas explicações só para prolongar o prazer de ver o malandro naquela situação vexatória.Mas em seguida atingiu o hospede com uma informação terrível:” A dentadura está comigo,quardada.Só vou devolver quando o sr. me pagar o que deve.” O pobre homem argumentou,explicou,mas não adiantou nada. A dona da pensão continuou dizendo que a dentadura só seria devolvida em troca do pagamento devido. Foi um santo remédio. O devedor relapso saiu apressadamente e daí a duas horas voltou a pensão com o dinheiro exigido. E nunca explicou onde conseguiu a apreciável quantia.Pagou o que devia, recebeu a dentadura de volta ,arrumou sua mala e foi morar em outro lugar,com a raiva borbulhanmdo nas veias.Talvez tenha levado a decisão de nunca mais negligenciar no cuidado com a dentadura postiça. A dentadura não servia apenas para lhe dar um sorriso mais bonito,mas tambem para eventualmente transformar sua vida num inferno.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.