Para além de dois caminhos

O Brasil, não é de hoje, vive uma dicotomia e um paradoxo em sua realidade político-partidária. A dicotomia reside na disputa que, há duas décadas, se organiza em torno do PSDB e do PT. Quase todo o espectro partidário figura como linha auxiliar dessas duas forças. Não foi por outro motivo que, justo elas, elegeram os últimos presidentes da República. Buscaram construir um protagonismo e o alcançaram. Tiveram seus méritos na organização interna e na comunicação social.

O paradoxo vem da relação entre a supremacia dessas siglas e o exagerado número de partidos registrados no país. Oficializadas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), hoje há 29 agremiações. Em paralelo, correm diversas tentativas de criar outras tantas. As ideologias, por mais versáteis que possam parecer, são em quantidade bem menor do que o cardápio de opções disponível. O resultado não poderia ser outro, basta olhar as propagandas na TV: tudo fica confuso como que num mesmo discurso – ou na falta dele.

Essas duas constatações fazem supor que é possível, e até mesmo desejável para nossa democracia, que um caminho diferente seja construído com solidez e perspectiva de vitória. Não através de uma invenção artificial, senão que por intermédio das próprias matrizes históricas já existentes. No PMDB, por exemplo, ao lado de outros filiados, defendo esse postulado há diversos anos.

Tanto é assim que, na eleição de 2008, aceitei o desafio de concorrer nas prévias para que o partido tivesse candidato à Presidência da República. Vinha de um governo aprovado no estado, conhecia o país, notava um esgotamento das alternativas postas e julgava que era hora de trabalhar por um novo projeto. Percorri o Brasil inteiro e senti a receptividade da base partidária. Entretanto, prevaleceu o fisiologismo e o interesse imediato de alguns caciques nacionais, e mais uma vez o PMDB foi a reboque.

Esse mesmo problema é vivenciado por outras siglas históricas, que passaram apenas a coadjuvar. Nada contra alianças eleitorais, mas é preocupante perceber que grande parte dos partidos decidiu tão-somente amoldar-se a uma condição auxiliar e secundária na disputa do voto e no exercício do poder. Ao abdicar de seus sonhos maiores, foram perdendo a identidade, dispensando a energia de seus filiados e esvaziando o próprio sentido de sua existência.

Numericamente, as últimas eleições deram indícios de que as pessoas buscam essa novidade – ora com Ciro Gomes (10,97%) em 1998, ora com Garotinho e Ciro (29,83%) em 2002, ora com Heloisa Helena e Cristovam Buarque (9,49%) em 2006, ora com Marina Silva (19,33%) em 2010. Sem entrar no mérito de tais candidaturas, restou claro que elas foram escape, cada qual em seu momento e circunstância, para um eleitor que demonstrava enfado com as mesmas alternativas. Os dados provam isso. E vale notar que, em todos os casos, as terceiras vias pertenciam a partidos pequenos.

O caminho do meio, bem se vê, continua vago no cenário político-partidário brasileiro – seja como chance de transformar-se num projeto eleitoral vitorioso, seja como espaço para construir um novo programa para o país. As discussões nacionais não podem ficar limitadas ao debate de quem fez ou deixou de fazer, tampouco apenas às soluções empregadas nos últimos anos, por mais meritórias que possam ser em diversos de seus aspectos. É preciso desenhar uma pauta mais ousada, efetivamente reformista, moderna, que preserve conquistas e desenhe novos avanços. Quem tiver decisão e competência, ocupa esse espaço.

 

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