Machiavelli: a Bíblia dos políticos

Hoy resulta que es lo mismo / ser derecho que traidor / ignorante, sábio, chorro / generoso o estafador // Que falta de respeto / que atropello a la razón / cualquiera es un señor! / caulquiera es um ladrón ! (Trecho do tango “Cambalache” – Letra e música de Enrique Santos Discépolo – 1935).

Nicolau Machiavelli, estadista e historiador, nasceu em Florença, Itália, em 03 de maio de 1469, tendo terminado seus atribulados dias em 22 de junho de 1527.

Serviu a Corte de Cesare Borgia, até os Médicis derrubarem a República em 1512, quando Machiavelli foi deposto e exilado. Sua concepção de poder pregava a prática acima da ética, pois tudo seria válido contanto que o objetivo fosse manter-se no poder.

Atualmente, é seguido à risca por muitos políticos corruptos que em público o criticam. Seus mandamentos foram sintetizados de acordo com a interpretação do historiador Henry Thomas. A força de seu pensamento deu origem à palavra Maquiavélico (astuto, velhaco). Dizia ele: “Se precisardes apunhalar o inimigo, sede atencioso com ele e fazei-o pelas costas.”

Em nosso país, muitos dos nossos representantes políticos, antes de dormir, após um dia repleto de artimanhas e falcatruas, dão um passar de olhos no livrinho do “camarada” Machiavelli, dando sempre especial atenção aos seu primeiro mandamento, pelo qual eles têm verdadeira adoração: “Zele apenas por seus interesses”.

No último pestanejar, ainda complementam a “oração” com o terceiro mandamento: “cobice e procure obter tudo o que puder”.

Também são fanáticos adeptos do sétimo mandamento de Machiavelli, o qual diz: “Engane o próximo toda vez que puder”. Para isso é necessário mentir, mas como são muito astutos, não a usam diretamente (a mentira), e sim através da desinformação, a qual, ao contrário da mentira direta, deve conter uma certa parte de fingida verdade, porém deliberadamente manipulada. Para isso, se valem de todos os meios possíveis, os quais não mudarão enquanto os valores de nossa sociedade não mudarem.

A arte de mentir tornou-se sofisticada a tal ponto que, se sistematicamente repetida, acaba soando como verdade na mente dos incautos.

Entre os meios dos quais se utilizam para isso, o qual penetra na maioria dos ambientes do país está o televisivo, onde a mediocridade se tornou muito mais vendável que o menor rasgo de qualidade, pois é impressionante a imensa legião de semi-idiotizados pelo lixo visual apresentado na maioria dos programas de televisão, a qual converteu a sociedade atual numa imensa colméia de seres humanos totalmente alienados da realidade. Estão aí os Big Brothers da Vida para dar um exemplo. Tanto as verdades como as mentiras, são manipulações que se tornam reversíveis quando utilizadas pelos que estão no poder, em benefício de suas imediatas necessidades.

Segundo Vargas Llosa, “o poder é uma práxis que exige contínuas transações com o engano e com a mentira para ter êxito.”

Lamentavelmente, a maioria das pessoas tem pouca imaginação, motivo pelo qual não sofrem com as circunstâncias que para os mais esclarecidos são mais difíceis de suportar.

Essa alienação torna-se cúmplice da exploração, pois facilita os falsos valores dos privilegiados, como se os mesmos fossem a verdade da natural condição humana.

Segundo Trasímaco: “Cada governo faz as leis para o seu próprio proveito. O que chamam de democracia, leis democráticas, não passam disso … Declaram justo , para os governados, o seu próprio interesse, e castigam quem o transgride como violador da lei.”

Mais adiante, acrescenta: “A justiça é simplesmente o interesse do mais forte”.

O que se vê atualmente em nosso país, é que alguns partidos políticos não passam de simples conglomerados, onde se troca qualquer coisa por um cargo no governo, no qual seus integrantes se sintam à vontade para praticar toda espécie de atos da mais extrema canalhice, não passando, portanto, muitos deles, de uma corja de corruptos. Os motivos que guiam o mundo dos homens, argumentava Balzac, são as paixões animais, especialmente a paixão do interesse próprio.

Nestes conturbados tempos em que vivemos, quando os sentimentos e os valores morais foram praticamente jogados no lixo, talvez se possa encontrar algo de sentido nas palavras de Jonathan Swift: “Detesto o mundo, porque estou me tornando inteiramente inadequado a ele.”

Geraldo Mastella – Escritor Santanense

 

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