O que fará Hollande?

A vitória de François Hollande não tem nada de ideológica e tampouco revela que uma tendência nesse sentido esteja ocorrendo na Europa. Basta ver que, recentemente, na Espanha, quem ganhou as eleições para primeiro-ministro foi o direitista Mariano Rajoy, do Partido Popular, justamente adversário dos socialistas daquele país.

O fato é que a economia, quando está em ebulição, se sobrepõe a quaisquer outros motivos para definir o voto do eleitor. O que estamos vendo é que, independente do espectro político, há um descontentamento com o status quo por parte da população europeia. E, salvo exceções, a conta será paga por quem está no exercício do poder. Trata-se de um movimento compreensível do eleitorado, como que uma autodefesa ou uma busca de nova esperança.

A derrota de Sarkozy, no entanto, justamente para além do aspecto ideológico, pode representar um perigoso refluxo no processo de recuperação que a Europa estava buscando. O programa de Hollande recusa as políticas de austeridade e de diminuição dos custos do Estado, postulado que, com a concordância francesa, é liderado pela chanceler alemã Angela Merkel. A grande questão reside em saber qual caminho será trilhado pelo novo comandante francês como alternativa.

Logo depois do anúncio da vitória, Hollande pronunciou: “Na hora em que o resultado foi anunciado, tive a certeza de que em diversos países europeus houve um sentimento de alívio e de esperança, de que, por fim, a austeridade pode não ser mais uma fatalidade”.

Isso não é suficiente, todavia, para compreender seu plano com maior clareza. É certo que as primeiras medidas anunciadas são pontuais e, mais do que resultado significativo, carregam um simbolismo político. A dúvida que fica, portanto, é saber o que fará Hollande, inclusive em relação à União Europeia, uma vez que ele não concorda com a política que vem sendo adotada pelo bloco continental. Se for concessivo no aumento do gasto público, a crise se agrava – isso é matemático. Se contrariar a direção adotada até aqui, enfrentará sérios entraves políticos.

Não bastasse essa incerteza, os dados negativos continuam se somando ao cotidiano da Europa. A produção industrial espanhola acelerou seu ritmo negativo em março, quando registrou um retrocesso de 7,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior, informou nesta segunda o Instituto Nacional de Estatística. O PIB do país teve um retrocesso de 0,3% no primeiro trimestre do ano. A taxa de desemprego na Eurozona alcançou 10,9% em março e estabeleceu um recorde em 15 anos, tendo a Espanha no topo da lista do bloco, com um índice de 24,1%.

É certo que a Europa precisa encontrar um novo caminho de crescimento econômico. Mas também é certo que houve um descontrole nos gastos estatais, gerando déficit público, incapacidade de investimento e insegurança no sistema financeiro. Hollande terá de criar sua própria fórmula com o trem em andamento, porque até agora não revelou uma plataforma clara para enfrentar a crise. O mundo espera que seja bem-sucedido, mas ele precisará muito mais do que ações simbólicas ou discursos de período eleitoral. A ver e a torcer nos próximos meses.

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