Como conquistar a crescente classe C

Uma pesquisa realizada pela empresa Cetelem BGN, do grupo BNP Paribas, aponta que 54% da população brasileira em 2011 pertenciam à classe C. Há pouco mais de cinco anos, 51% estavam nas classes D/E, demonstrando um avanço significativo na mobilidade social brasileira. Outro resultado interessante se refere à renda disponível, a qual teve um aumento de 50%, passando de R$ 243 para R$ 363. Este considerável montante de recursos nas mãos da classe C apresenta inúmeras oportunidades de negócios a quem se dispuser a compreendê-la.Para avaliar os impactos desta nova classe, recorro à teoria de Maslow, a qual apresenta forte aderência com este movimento de ascensão. Segundo o psicólogo americano, as motivações dos seres humanos são classificadas em necessidades: básicas, segurança, sociais, auto-estima e auto-realização, representadas pela figura de uma pirâmide. Segundo a analogia, um ser humano subiria um degrau à medida que satisfizesse o anterior. Comecemos nossa escalada, sendo que para fins deste artigo, substituirei as “necessidades sociais” pelo componente “status”. Básicas: até o advento do plano real, o país convivia com taxas de inflação que corroíam o pagamento durante o mês. O valor recebido no 5° dia útil competia com os marcadores de preço nos supermercado. Como o fim da inflação, aqueles que até então não podiam proteger suas economias com aplicações financeiras, perceberam que sobravam dias dentro do salário. Com algum dinheiro, passaram a comer melhor, satisfazendo suas necessidades básicas. Não por acaso, o frango e o iogurte ficaram conhecidos como símbolos do plano real.

Auto-estima: que tal poder viajar de avião, fazer um cruzeiro, ir para o exterior, mesmo que seja para visitar a Casa Rosada, ou quem sabe até comprar o primeiro veículo com prestações a perder de vista? São aspirações que alguns integrantes da classe C já podem vislumbrar. Para quem já tem casa, comida, roupa lavada e um pouco de luxo, é hora de massagear o ego, experimentando novas sensações. Este setor tem também seu campeão de vendas, a CVC, agência fundada no ABC para viagens tipo bate-volta. Cuidar da saúde também começa a fazer parte das preocupações.

Auto-realização: enganado está quem pensa que esta nova classe preocupa-se apenas com o consumo imediato. Um grande número de famílias já destina parte de seu apertado orçamento para a educação de sua prole. Curso de línguas, computação, ensino técnico, fundamental, médio e até faculdade. A competição, a educação à distância e a maior demanda por cursos fez explodir o número de vagas em universidades, derrubando os preços das mensalidades. Em sua grande maioria com pouca escolaridade, estes novos núcleos familiares querem não apenas garantir o caminho percorrido, mas permitir as futuras gerações que ascendam ainda mais a pirâmide social. Outra dica é facilitar o pagamento, uma vez que em muitos casos costumam pesar o valor da parcela, verificando se cabem em sua renda disponível. Capriche também no atendimento, já que costumam retribuir com fidelidade aos que lhe tratam com respeito. Por mais banal que pareça a compra, seja um jantar em um restaurante de fast food ou a compra de um simples aparelho de som, dê sempre a máxima atenção possível. Talvez estes simples atos sejam a realização de um sonho ou a comemoração de uma grande conquista, tal como a ascensão para a nova classe C. Boa sorte e bons negócios!

 

Por Marcos Morita
Marcos Morita é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ.

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