É tempo de pensar as cidades

Há um costume consolidado, em parcela significativa da opinião pública, de identificar os anos eleitorais com uma carga necessariamente negativa. Algo como: “que droga, teremos eleição!”. Porém, por mais que se revista de crítica, essa postura é um desserviço para a própria sociedade. Isso porque apreciações meramente generalistas, que apenas demonstram enfado com a realidade, em nada ajudam a melhorá-la. Mesmo repletas de boas intenções, tais ideias afastam as pessoas em vez de aproximá-las da política – e esse é o sonho de consumo de todo mau político. Um juízo distante, genérico e pouco informado tende a favorecer o pior.

A eleição municipal, por sua própria essência, permite um olhar mais detalhado e realista sobre o cenário político. Mais próximo, especialmente. E essa proximidade se dá em duas direções. Em primeiro lugar, quem vive numa cidade sabe de seus problemas. Não precisa de estudo, interlocutor ou densas teorias. As questões são cruas, reais, visíveis. A mentira tende a não sustentar-se. Em segundo, o eleitor também conhece os candidatos. Tem mais condições de identificar as virtudes e os defeitos de quem quer seu voto. É possível averiguar a história e a personalidade dos pretendentes para além da propaganda de rádio e TV.

Diferente da União e do Estado, que muitos especialistas identificam como ficções jurídicas, o município é o ente concreto da organização federativa. É nele que a vida efetivamente se dá. Um voto para definir o comando do local em que se vive é, portanto, um gesto de responsabilidade com a existência própria e dos próximos. É mais rápido e objetivo o caminho que divide um projeto de uma obra, por exemplo, mesmo com a concentração de recursos em outras esferas. É ali que as demandas reais buscam soluções mais imediatas. Os gestores públicos têm nome, sobrenome e endereço – não se escondem em gabinetes distantes, repletos de portas e anteparos.

Nesse contexto, é necessário ter em conta a importância das funções dos prefeitos. E uma escolha equivocada demandará quatro anos, no mínimo, de padecimento.

A ninguém se exige que goste de política, tanto menos dos políticos – inúmeros são os desvios de que se tem notícia em nosso cotidiano. Entretanto, a tarefa de escolhê-los não pode ser delegada, e se configura num dos maiores poderes da cidadania. Cuidar dos municípios – da terra em que vivemos e criamos nossos filhos – diz muito de construir um ambiente agradável e com qualidade de vida, um pouco além nossos próprios jardins. É o espírito de comunidade, pois, que precisa pautar as reflexões e as decisões deste ano de eleições municipais. E a indignação contra o que porventura esteja errado haverá de transformar-se num voto criterioso e consciente. Porque nossas cidades merecem.

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