Menos juros: justificadíssimos motivos

Alguns financistas reclamaram da diminuição da Selic, em meio ponto percentual. Acharam ruim que o Brasil tenha baixado sua taxa de juros para 12% ao ano, enquanto nos Estados Unidos, na Europa e no Japão esse índice não passa de 1%. No entanto, basta olhar a realidade para constatar que são justificados os motivos, tanto externos quanto internos, para essa decisão tomada pelo Banco Central.

O horizonte mundial mostra que a crise está só no começo. As bolsas asiáticas, encerraram com fortes quedas. As europeias também estavam operando com grandes baixas. A capacidade de reação dos EUA e das potências europeias é limitada. As medidas anunciadas até aqui não sinalizam para uma recuperação rápida daquelas economias. No Brasil, diversos indicadores se multiplicam a evidenciar dois dados: primeiro, que a crise inevitavelmente respingará aqui, por mais que o país não a tenha dado causa; e, segundo, que a nossa economia já está em estágio de desaquecimento.

Hoje, o mercado sinaliza para um crescimento anualizado do PIB em 3,67%. No início do ano, falava-se em até 5%. Tal desaceleração ocorre especialmente pela redução da atividade industrial, setor atingido diretamente pelos problemas do câmbio que têm a ver com juro alto. De resto: a tendência da inflação deverá ser de queda; investidores podem puxar o freio no curto prazo; o preço das commodities tende a cair; a oferta de crédito deve sofrer alguma restrição. Tudo a sustentar a decisão do Copom.

E, ao contrário de alguns reclames surgidos nos últimos dias, a diminuição da taxa Selic não significa interferência do governo ou atuação temerária do Banco Central. Muito diferente disso, ela está simplesmente calcada nos fatos evidentes, figurando como instrumento relevante para o Brasil enfrentar a crise. Isso começa pelas próprias contas públicas: só de economia com a rolagem da dívida, o governo vai poupar perto de R$ 7 bilhões. É mais dinheiro que sobra para investir em educação, saúde, segurança e infraestrutura.

Era previsível uma reação por parte de quem lucra com a especulação, mas é preciso relativizar esse nervosismo localizado. A decisão de reduzir a taxa Selic está absolutamente associada ao contexto brasileiro e mundial. E depois de tantos anos de conservadorismo, ela mostra que o Banco Central inaugura uma tendência que, bem longe de ser irresponsável, é madura, coerente e calcada na realidade. É uma evolução, isto sim. E que seja só o começo de uma nova era.

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