A lição de Robben Island

Aqui na África do Sul, em Cape Town, neste início de fevereiro de 2012, visitamos Robben Island, a ilha onde Mandela ficou preso por 18 anos, dos seus 27 anos de cárcere.

Barcos levam turistas 04 vezes por dia para a ilha. Sempre cheios. É preciso comprar com antecedência o ingresso. Duvido muito que Mandela tenha pensado, enquanto estava preso na ilha, que um dia barcos lotados de turistas de todo o mundo fizessem tal viagem para conhecer o seu cárcere.

A ilha prisão da segregação racial, para onde enviavam presos políticos sul-africanos, procurada agora por cidadãos do mundo todo.

Mandela ajudou a transformar o mundo, por meio do sofrimento politicamente útil, fértil, por meio de sua experiência, com seus companheiros e companheiras.

A África do Sul mudou. Não é o paraíso terrestre, mas mudou, está mudando, continua mudando, deixou de ser o inferno do racismo que foi.

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo” (Karl Marx – 11ª. tese contra Feuerbach).

Ultimamente, eu andava meio desanimado com o propósito de transformar o mundo. Mandela ajudou-me. A visita a Robben Island renovou minhas esperanças políticas na transformação social do mundo.

“Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui” (João 18, 36).

A frase é conhecida, de um carpinteiro de Nazaré. Uma frase que contesta o mundo e suscita esperanças em outro mundo, que já pode (ou deve?) começar parcialmente agora, entre os altos e baixos deste mundo.

No milênio passado, de forma diferente, cristãos e marxistas se lançaram na aventura de transformar o mundo. Marxistas, por meio de revoluções, ou caminhos parlamentares, políticos, com seus Partidos Comunistas, ou combinando reformas e revoluções. Cristãos católicos, por meio de revoluções, na América Central e Meridional, animados por Teologias da Libertação de opressões sociais, políticas, econômicas, ou por meio de caminhos reformadores, como propunha a Ação Católica, usando o método ver, julgar e agir. Ver o mundo, avaliar suas contradições e agir de forma estratégica, para reformar o sistema social de vida.

Faço parte da história desta esperança coletiva na transformação social do mundo. Até minha vida profissional foi condicionada por ela, pois escolhi sociologia movido pela ideia-desejo de interpretar o mundo para mudá-lo. Se eu tivesse escolhido gastronomia, mudaria todos os dias o mundo da gastronomia, transformando massas secas em macarronadas saborosas. Aliás, acho que gosto de cozinhar porque enquanto cozinho mudo alguma coisa. Fora da cozinha, mudanças são bem mais difíceis.

Em Robben Island reencontrei a esperança nas reformas sociais. Voltei de lá renovado, com a alegria política dos meus 18 anos, quando meu coração encantou-se pela primeira vez com a boa esperança na transformação social do mundo.

Fábio Régio Bento – sociólogo

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