Viver em Paz

Os sonhadores são pessoas extraviadas no mundo em que vivemos.Já não existe um lugarzinho reservado para eles.Um sonhador,um romantico, um lírico, cada um considerado no valor extraordinário da sua singularidade,é tão raro como a gralha azul ou a baleia branca.E quando aparece no meio social, promovendo as quermesses de sua alma sensível,é ridiculrizado pelos novos bárbaros que vão tomando conta do planeta. Ninguem faz um mal-me-quer com rosa,nem há amor que mereça tanto, com diz o antológico verso do Prado Veppo.Aliás,quem se lembra de plantar um pé de roseira num canteirinho do pátio?Deve ser porque está em vigor um tipo de vida que consagra as coisas úteis,valiosas e eficientes. E uma rosa,insubstituivelmente bela,não é util nem eficiente,ao menos na consideração dos economistas,econometristas e outros istas que estão dando as cartas do jogo do poder instalado entre nós.Com arraigado espírito de rebeldia resisto ao ímpeto da barbárie e guardo uns poucos sonhos que nem a tortura me fará abandonar.E o que mais aquece meu coração é o sonho de viver em paz,num cantinho qualquer do planeta,onde a cotação do dólar e as aplicações de curto prazo sejam tão remotas como a estrela de Sírius.Ao menos nesse cantinho eu quero que haja profundo respeito pelos ciclos da Natureza e que ninguem,absolutamente ninguem,queira salvar minha alma. Na entrada do meu sítio se dirá:”Aqui o sonho é livre e todos os homens são verdadeiramente irmãos.”

Boêmios

A vida,graças a Deus, está em toda parte mas, inegavelmente, há perigos e ciladas que ameaçam sua continuidade.E ninguem sabe mais a esse respeito do que os boêmios,inexoravelmente presos ao leito das ruas mal iluminadas,que tambem compõem a geografia das cidades.E,por isso,já ocorreram casos dolorosos que não desejo recordar. A exemplo dos velhos marinheiros que, um dia, não voltaram aos portos de suas aldeias, tragados por uma tempestade no mar, muitos boemios tambem morreram nas ruas, atacados pela violencia infame.Mas o que se poderiam fazer para evitar o cruel destino? Voltar ao conforto do chinelo, do pijama e da televisão? Um boemio, um homem da noite,tem consciencia dos perigos que se escondem nos desvãos escuros, mas jamais sucumbe à tentação da aposentadoria precoce.Resiste bravamente em nome de uma convivencia sem a qual sua vida seria insuportável. E, resistindo,impede que o espaço generoso da noite seja ocupado por indivíduos que, detestando a vida,querem destruí-la.Quando a cidade dorme,entregue a sina do seu cansaço,os boêmios vivem. E seguem o seu rumo ,prisioneiros de sonhos e fantasias.

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