Problema lá, atenção – e ação – aqui

Em termos de economia internacional, a melhor notícia da última semana foi a chegada da sexta-feira e seu consequente encerramento. A triste ironia se justifica diante de tantos problemas e dos péssimos indicativos que se sobrepuseram naqueles dias.

A ameaça de recessão global derrubou as bolsas de valores do mundo todo, a começar pela Bovespa, que na quinta-feira desceu a -5,72%. A mesma tendência foi seguida, nesse dia, pela Nasdaq (-5,08%) e pelas bolsas de Madri (-3,89%), Londres (-3,43%) e Milão (-3,21%), dentre outras. A forte intervenção de grandes bancos centrais no mercado de câmbio – caso do Banco do Japão, do Banco Nacional da Suíça e do Banco da Inglaterra – ajudou a espalhar essa percepção de contração econômica e perda de riquezas.

Apesar do acordo entre o parlamento e o governo americanos, a elevação do teto da dívida pública dos EUA foi considerada apenas um paliativo. Na sexta, a agência de avaliação de risco financeiro Standard and Poor’s (S&P) reduziu a nota da dívida pública do país. Foi algo inédito na história, mas explicável diante da crescente dívida e do pesado déficit no orçamento.

A situação europeia compôs o mosaico de grandes perigos. Depois das crises grega e portuguesa, Espanha e Itália apresentaram crescimento pífio e dificuldades de sustentação financeira. São dois países influentes dentro da Zona do Euro e, por consequência, no mundo todo. Note-se, especificamente, o caso italiano: sua dívida pública equivale a 120% do PIB. O risco de entrar em colapso parece iminente.

A China, por sua vez, outrora vista como motor insuperável de progresso, anunciou que terá de puxar o freio diante da crescente ameaça de inflação no país. O Japão confirmou desaquecimento e, como um dos grandes credores norte-americanos, sinalizou movimentos ainda maiores de recuo. Ou seja: também da Ásia não chegam bons prenúncios.

Muitas das crises econômicas de alcance global, mais do que baseadas em fatos, ocorrem pelo avassalador caldo de cultura que carregam consigo. O pessimismo toma conta dos mercados e leva para baixo até mesmo o que estaria imune aos problemas. Agora, porém, incidem os dois componentes ao mesmo tempo: os acontecimentos propriamente ditos (notadamente na Europa e nos EUA) e um ambiente de medo e recessão que começa a tomar conta do mundo.

Se o Brasil não colaborou para dar causa a esse mau momento e tampouco está em situação macroeconômica grave como estão as nações desenvolvidas, não se pode imaginar que o país conseguirá ficar totalmente imune ao turbilhão. E tanto não ficará que a Bovespa, na última semana, já mostrou isso, na medida em que alcançou a maior queda desde 2008. É possível que essa baixa tenha sido exagerada, fruto da especulação e de preços de ações desproporcionais. Mas um cenário de mais perdas é plausível, algo que o próprio Ministério da Fazenda admite. As exportações podem sofrer e o crédito, retrair. São os efeitos que aparecerão desde logo, abrindo margem a muitos outros.

O Plano Brasil Maior, lançado pelo governo Dilma com o objetivo de incentivar a indústria, ameniza a situação de algumas áreas ao diminuir carga tributária sobre a mão de obra, aumentar linhas de crédito e prorrogar redução de alíquotas. É ferramenta importante para arrefecer os efeitos do câmbio. Todavia, ainda há margem para diversas mudanças que são aguardadas pelos setores produtivos.

Em que pese a firmeza de nossas bases macroeconômicas e o bom desempenho dos últimos anos – inclusive no enfrentamento da crise de 2008, da qual o país saiu fortalecido –, devemos estar preparados para o que pode vir por aí. O governo federal precisa ter a atenção redobrada e agir com rapidez e eficiência. Brincar com fogo, afinal, nunca deu certo – nem na vida, muito menos na economia.

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