Aprendiz de Jornalista

Nem preciso dizer que sou um santanense de quatro costados. Aonde quer que vá incluo nas minhas conversas nomes de pessoas e lugares de Santana do Livramento e tambem de Rivera,que durante vários anos acolheu a casa dos meus avós,Amélia e Nengo,a poucos metros da linha divisória. Minhas primeiras incursões em Rivera,quando guri de calças curtas,foi para visitar meus avós. Lembro que eu me deliciava à sombra de uma parreira onde minha avó tomava mate doce, nas tardes de verão, sentada numa cadeira de balanço.Seus vaneráveis cabelos brancos jamais abandonaram o arquivo do meu olhar. Eu adorava minha avó Amélia, que gerou Alice, minha mãe, a tia Ordália e o Leandro, que muito jovem ficou com os cabelos brancos e morou vários anos numa casa da rua 24 de maio. Nunca visitei a casa dos meus avós e sai de mãos abannando. E o que mais eu valorizava eram os saquinhos de pano que minha avó costurava. Ali,ela guardava moedas para o neto mais velho. Depois de alguns dias,eu tinha dinheiro suficiente para frequentar as matinês do Cine Duque e comprar revistas em quadrinhos.Os herois das revistas em quadrinhos eram os amigos com quem eu dialogava antes de pegar no sono em um quarto da minha casa,na rua Duque de Caxias,de onde via a barreira quase intransponível de uma floresta de eucalíptos. Em noites de chuvas e trovoadas a floresta se tornava assustadora, proibida para os guris da minha idade.

Orgulho da Imprensa

Mas, assuntos como esse,permeados de brincadeiras inocentes,namoricos e amizades verdadeiras, sempre constam dos meus diálogos, que estimulo quando estou distante de Livramento e Rivera. Mas tambem há outros temas que nutrem minhas recordações,como o meu tempo de estudante e a realização das primeiras tarefas em A Platéia.Esta semana,o assunto me rendeu uma entrevista ao microfone da nossa RCC. Lembrei um periodo da minha vida que, apesar dos dissabores e dificuldades,foi prodigo em grandes ensinamentos.Foi em A Platéia que nasceu minha vocação profissional, cumprindo, numa etapa inicial,um período na revisão do jornal,então comandado por Toscano Barbosa. Muitas vezes,em plena madrugada, fomos surpreendidos na revisão com a visita do Toscano, que recem saira do convivio com amigos no Clube Campestre. Ele conferia de cima o trabalho dos jovens estudantes que contratava. Mas nunca deixou de ser solidário quando precisávamos de um vale encorpado para fazer umas comprinhas.Enquanto estive no jornal,até o final de 1964,fiz de tudo. Fui revisor, reporter, redator e editorialista.E apesar dos problemas causados pelos censores do regime ditatorial nunca deixei de escrever o que pensava,com o incentivo e o apoio do velho Toscano.Ao completar 75 anos de história,agora sob o comando da familia de Antonio Badra, A Platéia é, sem nenhum favor, um orgulho do jornalismo brasileiro. É inseparável do cotidiano da gente da Fronteira.

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