Incivilidades e infrações

O tema da redação do vestibular 2010 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul possibilitou aos vestibulandos a abordagem de diversas incivilidades e infrações empreendidas cotidianamente. Na única redação nota máxima, a vestibulanda Clarissa afirmou: “… ignoramos que, não só infrações, mas também incivilidades prejudicam a construção de uma sociedade sadia, pois abdicamos de atitudes abnegadas para sermos completamente egoístas, cegos. Portanto, o mundo só atenuará suas mazelas quando percebermos que tudo depende de esforços coletivos…”.

Esse assunto me voltou à mente ao observar outro dia, em pleno centro da cidade, um cidadão de idade já um pouco avançada ficar literalmente de boca aberta olhando para cima; certamente muito indignado com o desaforo de lhe jogarem água enquanto transitava na calçada. Era a água desses aparelhos de ar-condicionado instalados acima dos passeios públicos que, ininterruptamente, jogam água sobre os transeuntes.

A água que jorra desses aparelhos não é tão pura quanto à água que retiramos das nossas torneiras que, além do tratamento, é submetida a dezenas de análises diárias. A água desses aparelhos, certamente, carrega os miasmas dos ambientes onde eles estão instalados e a poluição originada na via pública.

No Código de Postura dos municípios estão contidas determinações e orientações para corrigir quase todas as irregularidades no âmbito da sua competência. No entanto, é muito complexo para os poderes executivo e judiciário fiscalizar e punir, seja pelo número de ocorrências, seja por falta de pessoal. Portanto, aos cidadãos, caberia a outra parte – ter um pouco mais de consciência publica através do respeito aos espaços comuns de uma cidade, pois junto aos direitos existem muitos “deveres humanos”.

Quem assistiu uma reportagem da TV a respeito dos passeios públicos de Tókio, onde existe um cuidado quase neurótico com a limpeza e conservação, poderá imaginar qual seria a reação daquele povo se tivesse que conviver com calçadas que não são conservadas e onde jogam de tudo um pouco.

Tudo começa num fato menor, depois berramos contra o espelho da má política, que talvez apenas reflita a soma de todas as nossas pequenas incivilidades e infrações.

A água que condensa no ar-condicionado, objeto dessa opinião, foi apenas um modesto exemplo de desrespeito ou falta de cuidado, suficiente para demonstrar que enquanto não houver uma perfeita sintonia entre governantes, leis e povo para os objetivos nobres da cidadania, resta a todos ficar de boca aberta para as centenas de outros descasos nacionais.

Vilnei Maria Ribeiro de Moraes
Engenheiro civil
vilneimaria@bol.com.br

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